sexta-feira, 22 de maio de 2020

ESPÍRITOS E SERES ESPIRITUAIS


História e Cultura: Espíritos e Seres Espirituais
Mam’etu Nibojí (*)
 

O banto pensa que Deus criou seres espirituais sem relação alguma com formas humanas corporais. Conhece numerosos espíritos de origem extra-humana.
Lançou-se a hipótese de que a crença mágica e a excitação dos caçadores sugeriram a existência doutros seres supra terrenos. Mas não se sabe donde surgiu esta crença.

Julgamos que pode ter a sua origem nas constantes incógnitas apresentadas ao banto pelo contato com a natureza e a impossibilidade de explicar certos fenômenos naturais. Mais uma vez recorremos à causalidade mística. Muitos fenômenos naturais e sucessos exigem uma causa que bem pode ser um espírito.

Um tema muito repetido na tradição oral negro-africana também podia ter dado origem a esta crença. Os povos caçadores-recoletores acreditavam na existência do “senhor dos animais”, que personificava a beleza animal.

Era um espírito com personalidade própria, com forma de animal ou de monstro gigante que vomitava fogo e estava coroado de várias cabeças. Em geral, pretendia prejudicar os caçadores. Ia e vinha com o vento, nos torvelinhos e, com freqüência, desorientava na selva e na savana os caçadores e viajantes, que se perdiam. Podia raptar crianças. Imaginavam-no rico e poderoso, conhecedor dos segredos da natureza, caprichoso e perigoso. Mas proporcionava peças de caça ao caçador que lhe oferecia presentes e lhe descobria até certos segredos. Amiudadas vezes imaginavam muitos “senhores dos animais”, um por cada espécie.

Nenhum aspecto da Religião Tradicional resulta mais difícil de perceber que a natureza, qualidades e funções dos Espíritos, e, sobretudo, onde começa e termina o seu poder e a sua influência.

Devem ser considerados como seres criados, inferiores a Deus, intermediários, imersos no dinamismo vital e atuante pela interação, mesmo que os não considerem “familiares”.

Independentes e misteriosos dentro do mundo invisível, não se comunicam com os antepassados, e já nem a sua origem ou natureza os relacionam.

Como intermediários, estão próximos de Deus, podem contactar com Ele, apresentar-lhe as oferendas e orações dos homens e trazer a Sua resposta. Muitos grupos consideram-nos como servidores de Deus, o Qual por eles se aproxima do mundo.

Quase nada explicam da sua natureza. Só que Deus os criou assim. São inteligentes, espirituais, livres, benfeitores ou malfeitores. Por isso consideram alguns como protetores e guardiões de indivíduos, grupos e lugares. Até podem habitar em objetos, lugares e pessoas temporária ou permanentemente. Nestes casos recebem um nome próprio que reflete as suas funções, índole, poderes, exigências e ações, ou que é tomado do lugar onde os localizam.

Podem levar vida solitária, mas é mais comum imaginá-los vivendo em grupos. Coletivizados assim, nomeiam-se com um vocábulo genérico e pensam que atuam em conjunto.

Como são invisíveis e detectam a sua presença ativa nos fenômenos invulgares naturais e nos acontecimentos estranhos, só o especialista da magia os descobre, e descreve a sua índole e desejos. “Contribuem para a ordem do mundo e constituem uma verdadeira “chefia celeste” sob a autoridade do grande Deus”. Por isso devem lembrá-los e torná-los propícios.

O culto banto reserva-lhes ritos especiais.

Noutras áreas culturais não-banto veneram certas “divindades secundárias” conhecidas com nomes genéricos; os”Vodun”,milhares de “Orisa” dos “Yoruba, os “Abosom” dos Ashanti,”Pan-gol” dos Serer, “Trowo” dos Ewe, “Aziza” dos Fon e Mina ou os “Ziri” dos Songhai.

Fonte: ALTUNA Raul,Cultura Tradicional Banto

(*) Elizabeth B.Azevedo é graduada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Matemática Financeira. Iniciada no candomblé em 1986, filha de Danguesu, neta de Saralandu, bisneta de Kianvulu e atualmente filha do Tumbalê Junçara-BA.

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