sexta-feira, 11 de setembro de 2020

DIVINDADES

 

Divindades: Divindades
Tata Kisaba Kavinajé(*)

As divindades dividem-se em: soberanas e intermediárias. E as intermediárias em: superiores, auxiliares e serviçais. As soberanas são: Zambi e Calungangombe. E as intermediárias classificam-se em: miondonas, calundus, quituas e quiandas.

SOBERANAS

Zambié o Deus das alturas promotor da existência, autor do bem e do mal, o Deus propriamente dito. Deriva de kuzamba: presentear (a vida, o mundo).

Calungangombe é o Deus das profundezas do globo – o Além-Túmulo dos aborígenes – o juiz e chefe dos mortos. Deriva de kalunga (morte) + ngombe (ruminante da família dos bovídeos). Logo, um ente voraz de vidas.

INTERMEDIÁRIAS

Miondonassão espíritos tutelares. Nascem conosco e herdam-se principalmente do ramo paterno. Defendem-nos do mal. Deriva de kukondona: limpar (do mal).

Calundussão espíritos justiceiros e medicantes. Herdam-se principalmente do ramo materno. Representam almas de pessoas que viveram em épocas remotas. Distingue-se o diculo – ancião e o diculundundo – ancião de idade mais avançada. Deriva de kulundula: herdar.

Malungassão espíritos simpatizantes. As entidades que, na vida terrena, constituíram indivíduos da raça branca, assumem, por influência do catolicismo, a qualificação particular “santo”.  Deriva de M’akuá-lunga: relativos aos do Além.

Quitutassão gênios. Vivem em toda a parte, como nas matas, rios, cacimbas, montes, rochas. Embora raramente, podem-se mostrar em forma de bichos, denunciando bons ou maus presságios. Deriva de kututa: transportar (em si).

Quiandassão as sereias. Vivem na água, principalmente no mar, podendo mostrar-se sob qualquer aspecto – pessoas, peixe, coisa. Suas aparições, tal qual aos quitutas, representam bons ou maus indícios. Deriva de kuenda: andar (indo com alguém).

Complementando as definições de espírito, vamos agora apresentar as de alma. Segundo o autor, espírito é uma alma evoluída, ou através de possessões seculares, ou através de sucessivas transmigrações – argumento este verificado no conto Quimalauezo, inserto no I vol. De Missosso, não como elemento de evolução, mas como um retorno à vida.

Muenhoé a vida ou alma de vivente. Em sonho, desprende-se da matéria, vagueia pelo espaço. Deriva de kumuena: ver in loco.

Dele ou Zumbié alma de pessoa falecida recentemente, num período não secular. O aportuguesamento de zumbi é canzubi. E de dele, proveio a expressão mundele – indivíduo de raça branca. Pela decomposição – mukuá-ndele – apura-se a comparação: possuidor de alma, semelhante a alma. Os termos derivam, respectivamente, de kuzumbika e kuendela, ambos os verbos significando perseguir (a mandado de feiticeiro). As almas e espíritos são designados pelos termos: akuá-Lunga (os do Além) e akuá-moxi-ia-mavu (os de debaixo da terra).

Quituloé alma penada. Deriva de kutula: amargar.

Muculoé a alma de pessoa acabada de falecer, ou mesmo falecida há poucos anos, a qual actua noutrem, ou par lhe revelar um segredo, ou para lhe legar o seu saber e a sua corte de espíritos. Deriva de mukuá-ukulu: indivíduo do tempo antigo; que viveu noutro tempo.

Fonte:ILUNDO – Divindades e Ritos Angolanos, Oscar Ribas.

(*)Espedito é Tata Kisaba iniciado por Mam’etu Jiboin diá Nzambi. Atualmente é mona dia Mukixi de Tata Talamonakô, dirigente dos Terreiros Tumbalê Junçara e Kianvulá – Ba

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