domingo, 11 de julho de 2021

OS GÊMEOS

Variedades: Os gêmeos Retirado do livro Volta ao Mundo em 52 Histórias, de Neil Philip e Nilesh Mistry. Mama Maza Kessy Uma mulher deu à luz dois gêmeos e os chamou de Mavungu e Luemba. Eles já nasceram adultos, cada qual com seu talismã. Por essa época a filha do chefe Nzambi atingiu a idade de se casar. Muitos pretendentes se apresentaram, porém ela recusou a todos. Ao saber desses acontecimentos, Mavungu decidiu tentar a sorte. Rogou a seu talismã que o ajudasse e partiu, chegando à aldeia do grande chefe após uma caminhada de muitos dias. Assim que o viu, a filha de Nzambi correu para a mãe e declarou: “O homem que eu amo está aqui, e morrerei se não me casar com ele”. O casamento foi celebrado sem demora, e ao fim da cerimônia os jovens foram conduzidos à linda cabana nupcial, enquanto a aldeia inteira comemorava sua união com danças e cantorias. Na manhã seguinte Mavungu notou que uma série de espelhos revestia as paredes da cabana, todos cobertos com um pano. Pediu à esposa que os descobrisse e neles viu as imagens de sua aldeia e daqueles pelas quais passara em sua viagem. Apenas um espelho a filha de Nzambi não descobriu. “Ele mostra a aldeia da qual nenhum viajante retorna”, explicou. Contudo, Mavungu insistiu tanto que a moça acabou fazendo sua vontade. “Preciso ir até lá…”, disse o rapaz ao se deparar com a imagem fatídica, e de nada adiantou sua esposa lhe implorar que não fosse. Chegando a seu destino, Mavungu encontrou uma bruxa. Pediu-lhe fogo para acender o cachimbo, e ela o matou. Preocupado com o irmão, Luemba decidiu procurá-lo. Ao vê-lo, o chefe Nzambi exclamou, feliz: “Meu genro, você voltou!”. Luemba explicou que não era Mavungu, e sim seu irmão gêmeo, porém, como de nada adiantou, deixou-se conduzir à cabana nupcial. Naquela noite rezou com fervor, suplicando a seu talismã que o ajudasse, pois pressentia que tinha uma difícil missão a cumprir. Ao despertar na manhã seguinte, viu os espelhos cobertos, pediu à esposa de seu irmão que o descerrasse e tomou conhecimento da sinistra aldeia da qual nenhum viajante regressava. “Preciso ir lá”, declarou. “De novo?”, a filha do chefe perguntou, pois, como seu pai, acreditava que ele era seu marido. Luemba partiu e encontrou a bruxa. Pediu-lhe fogo e, antes que ela pudesse fazer um gesto, matou-a com um só golpe. Então pegou os ossos do irmão, tocou-os com seu talismã e os trouxe de volta à vida. Juntos, os dois reuniram todos os ossos espalhados naquele verdadeiro cemitério a céu aberto e com seus talismãs, ressuscitaram as vítimas da bruxa. Assim, conquistaram centenas de seguidores fiéis e voltaram, vitoriosos, para a aldeia de Nzambi, onde demonstraram a todos que eram irmãos. Compartilhe isso:

sábado, 10 de julho de 2021

SUKO

Divindades: Suko  Mam’etu Nibojí(*) Quando uma pessoa está alucinada ou faz prodígios, toda a gente diz que tem o Suko dentro de si. Afirmam, até, que se o Suko disser ao paciente para se atirar a um rio, cheio de crocodilos, ele obedecerá e sairá de lá sem uma beliscadura sequer. Poderá pôr tições a arder sobre qualquer parte do corpo, sem que se note alguma queimadura. Quando isto acontece, o doente vai ao adivinho de Ngombo. Se este lhe disser que tem o Suko, é chamado o tchimbanda que lhe faz os exorcismos, obrigando o Suko a sair do corpo do paciente. Uma das canções entoadas durante os exorcismos é a seguinte: Tchimbanda: Suku mwana wa Nzambi (Suko filho de Deus) Coro: Yééléé yééléé Tchimbanda: Fambuka ha mujimba wa mutfu (Sai do corpo da pessoa) Coro: Yééléé yééléé Tchimbanda: Hanga urya ifu nyi manyinga (Para que comas carne e sangue) Coro: Yééléé yééléé Tchimbanda: Mbá mutfu a-hintuke (Para que a pessoa fique sã) Coro: Yééléé yééléé. Enquanto cantam, o tchimbanda vai fazendo riscos, por todo o corpo do paciente, com pemba e mukundo. Ao mesmo tempo, dá-lhe a beber determinada droga, feita de vegetais, e asperge sobre ele o mesmo remédio, de vez em quando, com uma espécie de hissope feito de ervas. Isto repete-se, até que o espírito saia do corpo do paciente, o que se verifica por fortes estremecimentos e contrações. Quando estes se prolongam durante muito tempo, o tchimbanda fá-los parar, pondo uma folha de árvore, atravessada em dois sítios por um palito, que depois segura no cabelo do doente, ficando a folha sobre a cabeça e na qual dá três pancadas com a mão direita, espalmada, dizendo: Hola (cala) rituamina (deixa) hanga mutfu a-hintuke (para que a pessoa fique sã). Logo que o espírito abandona o corpo doente, o tchimbanda apresenta-Ihe um galo ou cabrito vivo. Então, o paciente, com um furor de louco, de animal selvagem, corta-lhe as artérias do pescoço com os dentes e chupa-lhe, algum sangue. Depois, com o sangue a brotar do pescoço do animal, vai regar duas estatuetas de madeira, com uma espécie de altar, representando o Suko e esposa. Se o animal imolado for um galo, deixa-lhe lá a cabeça que cortou com os dentes. Em seguida, o coração e todos os órgãos interiores do animal são cozidos e comidos pelo paciente. Metade do galo dá-la-á à sua primeira mulher, se for casado. Se se tratar de cabrito, comerão ambos a totalidade dos órgãos interiores, uma perna e todo o tronco deste, repartindo também com o Suko e esposa, representados pelas estatuetas já citadas. Ao mesmo tempo rezam-lhe para que os deixem em paz. Nessa noite, o doente terá relações com a mulher que ajudou a tirar-lhe o espírito do corpo. Dali para o futuro, em todas as luas-novas, rezará e polvilhará o Suko e esposa com farinha de mandioca. Além disto, o tchimbanda dá-lhe uma cabacinha cheia de um pó por ele preparado, para que, sempre que tenha sintomas de possessão, tire um bocadinho e esfregue com ele as costas das mãos, os ombros, os temporais e a testa, para afugentar tal espírito. Fonte: Martins, JOÃO VICENTE; Crenças, Adivinhações e Medicina Tradicionais dos Tutchokwe do Nordeste de Angola. (*) Elizabeth B.Azevedo é graduada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Matemática Financeira. Iniciada no candomblé em 1986, filha de Danguesu, neta de Saralandu, bisneta de Kianvulu e atualmente filha do Tumbalê Junçara-BA. Compartilhe isso:

sábado, 29 de maio de 2021

SIMBI

Divindades: Simbi Texto traduzido por Mam’etu Nibojí (*)   SIMBI (plural BASIMBI e/ou KISIMBI) é o nome coletivo para um grupo muito diverso de antigos espíritos ancestrais, vindos de Kikongo, área da África Central Ocidental. A espiritualidade do Kongo é particularmente sofisticada e criativa. Na visão do Kongo, o mundo se divide em duas partes – o firmamento, lugar dos deuses e a terra, domínio dos mortais. Entre estes dois mundos encontra-se um vasto mar, um oceano de fluídos que os espíritos atravessam e se movimentam entre os dois domínios. É aqui onde vive SIMBI. Na espiritualidade do Kongo é reconhecida uma hierarquia espiritual. Imediatamente acima dos seres humanos vivos estão os antepassados ou NKUYU. Acima deles e mais afastados dos seres humanos está SIMBI. No sistema de crença do Kongo todos os SIMBIestão associados à água. Eles são a fonte das bênçãos especiais, mas também são um tanto imprevisíveis. Dizem ser nascidos duas vezes o que significa que não tiveram, recentemente, vida na terra. Portanto, são a alta classe de antepassados, tendo sido elevados através da morte a um sublime status maior que o dos seres humanos e ainda nos continuam disponíveis para consultas e serviços. Wyat Macgaffey, um líder de faculdade na cultura Kongo, fala como os espíritos SIMBI gostam de pousar nas árvores como pássaros e descerem à terra para criar mágicas. Não é um grande pulo que cause inveja às cobras do Haiti. DAMBALAH, a grande serpente, que também pousa acima das árvores e descendo à terra quando perturbado, o faz em estilo perigoso. Michael Ortiz Hill, um curador tribal e escritor bantu, postula que: Uma das palavras mais obscuras no inglês americano é SIMBI, usado somente no mar das Ilhas da Georgia e nas áreas litorais próximas. SIMBI tem o mesmo significado em inglês, como tem o povo haitiano, o cubano, o português brasileiro e em Kikongo. SIMBI significa “espíritos da água”. E realmente há uma ilustração considerável sobre os CYMBEES das terras úmidas do hemisfério meridional, os espíritos da água violentos e mágicos que habitam os córregos, pântanos e lagoas. A cultura Voodoo lista não menos que 27 nomes para SIMBI, cobrindo as nações de RADA, PETRO e KONGO. Os SIMBI originais são calmos, espíritos criativos na cosmologia do Kongo. Estes incluem SIMBI DLO e SIMBI ANDEZO. A habilidade mágica de poderes, chamada NKISI entre os Kongolenses, vertido em mágicas poderosas usadas nos rituais de PETRO faz surgir SIMBI AMPAKA, SIMBI GANGA e SIMBI MAKAYA. Cada SIMBI também tem suas associações específicas.SIMBI DLO(SIMBI da água);SIMBI ANDEZO tem a conexão com a água comum e a água salgada; SIMBI AMPAKA é associado com folhas e venenos; SIMBI MAKAYA é conhecido como o feiticeiro e o patrono da Sociedade SANPWEL de onde somos membro. Embora eu não tenha nenhum escrito que aponte para uma SIMBI fêmea, tenho um relacionamento muito próximo com GRAN SIM-BA que diz ser a mãe de todos os SIMBI. Elizabeth MacAlister escreveu em 2000 sobre seu encontro com o espírito guerreiro SIMBI GANGA, nas altas montanhas de Petronville, Haiti, em 1993. Aqui está a canção que um Hounsi (iniciado na nação dos Voodoo) cantava para ele:Simbi O Simbi Ganga E! m’a rele Simbi Ganga E!Yo mete pote kouto, yo mete pote poinya m’pap pe yoSimbi Ganga e m’pap pe yo, Simbi Ganga!Simbi, O Simbi Ganga hei! Eu estou chamando Simbi Ganga hei!Podem trazer facas, podem trazer espadas, mas eu não estou receoso delas. Simbi Ganga eu não estou receoso delas, Simbi Ganga! Em tempos de problemas profundos, SIMBIé o mercúrio mágico que pode ser chamado para ajudar na solução de tais problemas.SIMBI é também um LOA de comunicação. Tudo que diz respeito ao que se move na velocidade da luz, está no domínio de SIMBI (impulsos nervosos, eletricidade, etc). Ele é associado com a encruzilhada e seu símbolo abrange a cruz armada.Existem muitos SIMBIe as cores favorecem a cada uma das variedades:ANDEZO– turquesa e vermelhoMAKAYA– vermelho e pretoDLO – azul e verde Oferecem-lhes água (se for ANDEZO– água de duas fontes, como mar e água fresca) de chuva com tempestade, fitas e velas verdes bem como peles limpas de cobras.Ao contrário da grande serpente DAMBALAH WEDO, SIMBI é considerado uma serpente longa e fina.Sallie Ann Glassmam interpretou SIMBI como o Cavaleiro Mágico das cartas do tarot, com seus braços levantados na tradicional saudação mágica ocidental. Aqui vemos SIMBI trazer abaixo o poder e levantar acima a energia. Flashes como raios ou eletricidade faíscam de suas mãos. Cobras finas e verdes surgem repentinamente com seus gestos criativos. Cinzas fluem no mundo.Seja qual for sua imagem, SIMBIé, sobretudo, o mágico superior, a alma sábia que traz o poder, a riqueza e a introspecção a seus servidores.Fontes: Secrets of Voodoo, Milo Rigaud; Africa and the West, Wyat MacGaffey (*) Elizabeth B.Azevedo é graduada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Matemática Financeira. Iniciada no candomblé em 1986, filha de Danguesu, neta de Saralandu, bisneta de Kianvulu e atualmente filha do Tumbalê Junçara-BA. Compartilhe isso:

quinta-feira, 27 de maio de 2021

DIVINDADES

Divindades: Religião e Deuses Walmon Rodrigo TCHOKES – Hierarquia religiosa N’Zambi – Criador do Mundo. Samuang. Feminino Namuang, Masculino Tchirhongo – Personagem masculino, austero, representa força e mando. Primeiro casal da terra, representados por dois troncos secos e estreitos, com as esculturas de um casal nas extremidades, ficam erguidos perto das cubatas e isolados. Kuba-Wavula –Divindade má, mata, queima e destrói em dias de chuva – Wavula – no momento do raio – Kuba. É representado por um manipanço disforme, com dentes pontudos e irregulares simulando uma boca. Kakuka - Filho de Nzambi e Samuang, tem poderes de premonição. É representado por um boneco e uma tábua, na qual se esfrega o boneco, até este dar as respostas pretendidas. Tuhemba(massuko) – Divindade feminina que ajuda as sementeiras. Primeira filha de Samuang e Tchirhongo. É representada por um tronco estreito e seco, com uma figura feminina esculpida na ponta. Esse tronco fica espetado do lado de uma paliçada pequena, que tem em cima figuras representando a família e descendentes. Katoto – Personagem grotesco, ridículo e cômico. Katwa – Figura amedrontadora, de feitiço muito poderoso, protege quem o agrada e prejudica os que o subestimam. Mwana-Pwo – Totalmente feminina nos trejeitos e enfeites, é uma divindade protetora e alegre. Deuses menores ou de segunda ordem São todos filhos adotivos de Luzunzi. Wela-ke-Luzunzi – É a entidade que protege os pobres e os tristes. Kinkinda e Kilili – São as entidades protetoras dos grãos de milho, da mandioca e das farinhas que deles resultam. Kimpunkulo e Kinzunda – São as entidades protetoras da agricultura. M’Baki, Lukola-Limpangi, Mundala-Mipangi e Luki-a-Limpangi – São as entidades que protegem os riachos, onde habitam, junto com toda a fauna e flora desses lugares. Mitologia do Clã Bakongo NZambi - É o ente supremo e bom, que tem o poder criador. Chamam-lhe também de Tata ou Tata-Itu – Pai ou Pai Nosso. Bakisi ou NKisi – São seres sobre-humanos que protegem o homem. Bakasi Basi – são os espíritos da terra; NKisi NSi – são os espíritos do poder. Usam outros espíritos nas suas tarefas, e são de uma maneira geral bons, mas se for necessário, podem também fazer o mal. Zindundu – São espíritos de albinos, monstruosos e incapazes de procriar. São temidos por todos os espíritos do mal, muito embora não esteja muito bem definido que tipo de poder eles têm, nem como o exercem. Os albinos, em vida também são temidos a ponto de, nos mercados os deixarem pegar o que quiserem, sem terem que pagar por nada. Basima – São os espíritos dos gêmeos; são bons e respeitados. Em vida os gêmeos também são respeitados como seres especiais; deles sempre se espera atitudes boas e generosas, e se por um acaso tomam uma atitude que não o seja, considera-se que houve forte razão para isso, ou que a atitude não foi bem interpretada. Kilombo - São os espíritos que entram nos cérebros, os interpretam e influenciam. Vimbu – São espíritos maus, de pessoas que morreram inchadas, com chagas, doenças de pele e irritações. Compartilhe isso:

quarta-feira, 26 de maio de 2021

NZAZI E HONGOLO

Divindades: Nzazi e Hongolo A disputa entre Nzazi e o Arco-Íris Mito dos Yombes  Tradução livre do Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo(*) Um dia, Mbumba, o arco-íris, deixa sua caverna na beira da água e sobe ao céu, onde vive Nzazi,o raio. Juntos constroem uma cidade e Nzazi que é o chefe do céu, propôs confiar a chefia da cidade a Mbumba, mas este não aceitou e volta à terra. Aqui chegando, se joga na água, mas duas mulheres que estavam no rio pescando, haviam fechado a caverna que servia de morada para Mbumba. Mbumba fica muito bravo, e as mulheres tentam matá-lo, mas na disputa ele arranca o dedo de uma e assombra a outra em forma de uma serpente que deixara a água vermelha, fazendo com isso que todas as mulheres se evadissem do local. Após isso, Mbumba volta para o céu e lá chegando, percebe que Nzazi teria vindo pra terra a fim de matar seis homens. Nzazi não demora a voltar e quando retorna, saúda Mbumba com um ar zombeteiro. Mbumba reconhece que Nzazi é o dono do céu e lhe oferece um escravo, mas ajuíza que se Nzazi matá-lo haverá uma grande chuva torrencial. Nzazi não leva a sério as palavras de Mbumba e esbofeteia o escravo que se põe a chorar. Mbumba retorna à terra e procura seu amigo Phulu Bunzi que é o Senhor da água. Ele pede a Phulu Bunzi que mate Nzazi. Phulu Bunzi então sai da água com um grande aparato real e convoca Nzazi para um procedimento mágico. Desde que Phulu Bunzi saiu da água a terra inundou-se. Phulu Bunzi então estabelece uma disputa com o arco-íris e conclui um pacto de amizade com Nzazi que volta para o céu. Após isto feito, Phulu Bunzi espera o Arco-Íris em sua cidade e se despede do mesmo num dia de muita chuva, e ao mergulhar no rio, que é sua casa, percebe que seu filho está morto, mas o Arco-Iris diz a ele que, se o mesmo render-se a ele e lhe pagar uma reparação, o menino se salvará.. Phulu Bunzi não tendo como cumprir a exigência, decepa a cabeça de Mbumba, o Arco-Íris, e manda enterrar seu corpo próximo a paliçada e espetar sua cabeça sangrenta no mastro mais alto. Este mito, refere-se a sazonalidade das chuvas e das estações secas. Interessante notar que é um mito ligado ao povo Kongo, por isso, estou quase certo, que encontraremos novos mitos referentes aos Mikisi, se procuramos no fabulário congolês. Fonte:L’arc-em.ciel et La foudre – pág. 57/58 M3 – Yombe Iteusch, Lui de. Lê Roi Ivre ou L’origine de l’etat. Lês essais CLXXIII, Gallimard, 1972 (*) Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo é formado em letras, mestrado em Literatura afro-brasileira, doutorado em literaturas africanas de língua portuguesa. Pesquisador de cultura bantu e afro-brasileira. Livros e artigos publicados. Compartilhe isso:

NKOSI

Divindades: Nkosi Tata Giamba Nkisi Nkosi, é derivado da mesma família como Nkondi, mas está diferentemente composto e é usado pelo nganga durante a iniciação de noviços. Notas de MacGaffey diz que o Nkosi é um nkisi formidável, que opera em mais de um domínio (1993:72). De acordo com os dados de coleção que acompanham do Musée Royale de l’Afrique Centrale, um nkwej de Yansi (nkwej que é o Yansi equivalente para o Kongo Nkisi Nkosi) é o protetor do clã e pertence ao segundo a maioria da ordem de nkisi importante entre o Yansi. Mas também usa resolve disputas entre duas pessoas. De acordo com Laman, nkisi Nkosi é usado na descoberta de potencial inicial (1962:91). Ele explica isso durante a iniciação, três ou quatro assistentes mulheres têm que colher folhas do mbota que subam em árvore, para abanar o fogo em qual a panela de onde são postos os elementos. Folhas do mbota sobem em árvore, rastejador de nsangi, a fruta preta da planta de mfilu, que são postos na panela. Quando a panela estala, o predisposto inicia queda em convulsões extáticas. Estes iniciados são identificados então ele deve entra processos de iniciação mais adiante no nkisi Nkosi (Laman 1962:91). Eu gostaria de sugerir que o aspecto de caça desta vasilha de poder é personificado em sua habilidade para procurar, identifica e possui que potencial inicial. O termo Nkosi se refere a “o leão”. Entre o nkisi de Kongo Ocidental Nkosi é uma figura grande (Laman 1036:728). Fonte: Laman, Karl. 1962. The Kongo III, Uppsala: Studia Ethnographica Upsaliensa, 4. MacGaffey, Wyatt. 1993. “The Eyes of Understanding,” in Astonishment and Power, Washington: National Museum of African Art. Compartilhe isso:

sábado, 22 de maio de 2021

NKONDI

Divindades: Nkondi Katulembe O fetiche de prego, de origem Vili ou Yombe, pertence à categoria do “Nkisi Nkondi”. Seu poder está ligado com magia, política e religião. Os olhos são feitos de pequenas conchas coladas com resina natural. Ele tem “duas cargas mágicas”, uma na barriga fechada com um espelho e outra no topo da cabeça, coberta com uma pele de cobra. Na mão direita, na peça original, carregava uma lança, indicando o seu caráter agressivo. Ele é parcialmente encoberto por pátina (oxidação da tinta) encrustada, devido a várias substâncias usadas durante as cerimônias.Esta é uma descrição de 1887, de um encontro entre o “nganga”, seu “fetiche de prego” e um cliente. Após receber a sua remuneração, o nganga mandou dois homens trazerem o fetiche que eles carregavam numa rede. O fetiche foi colocado cuidadosamente aos seus pés e o cliente começou a contar a história de sua infelicidade. Ele estava descrevendo o mal que ele tinha sofrido e evocou a vingança que desejava infligir em troca ao culpado. O nganga recebeu o prego do cliente e o girou em seu cabelo. Isso foi feito de maneira que uma quantidade de cabelo fosse puxada (arrancada). O nganga beijou o prego e dirigindo-se ao fetiche repetiu o pedido. Então ele “plantou” (pregou) o prego direto no peito do fetiche. Este fetiche foi coletado nos anos 60, na vila de Kankata situada numa região conhecida por ser o lugar da “croix coma”. O objetivo desta seita é livrar-se das influências dos fetiches dos perseguidores. (Texto traduzido da internet) Um pouco mais de Nkondi  Mam’etu Niboji(*)   Relacionado a Nkondi está o Embondeiro, árvore cultuada principalmente para o feitiço. O embondeiro tem forma de garrafão, medindo aproximadamente 12 m de perímetro. É chamado de NKONDO IKUTA MVUMBI- Embondeiro do morto gordo, por que a pessoa contra quem se faça o feitiço, contra quem se prega o prego, morrerá gordo, inchado como o embondeiro.Conforme o prego usado, o efeito, segundo o povo de Cabinda será mais ou menos imediato. Assim, pregos de cobre ou de alumínio produzem efeito mais imediato. O mais famoso embondeiro encontra-se em terrenos escolhidos pela Câmara, para o Bairro Popular Mendôça Frazão, em Cabinda.Quem deseja mal a alguém e dele se quer vingar, prega, também, um prego na estátua de NKONDI, jurando que não terá descanso até que o outro seja punido.Fazem parte do grupo de Nkondi: Mabaria Mandembo, Mangaka, Mungundo, Nsasi-Nkondi, Nkondi Ikula Mvumbi. Nkondi e Nkosi são considerados espíritos do mal e deles provêm todo o mal aos homens. Por seus poderes diabólicos, Nkondi e Nkosi permitem e fazem com que os Bandoki (assassinos e comedores de alma) se desdobrem, e ajudados pelos espíritos dos antepassados – manes – arranquem das pessoas o espírito da vida. (*) Elizabeth B.Azevedo é graduada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Matemática Financeira. Iniciada no candomblé em 1986, filha de Danguesu, neta de Saralandu, bisneta de Kianvulu e atualmente filha do Tumbalê Junçara-BA. Compartilhe isso:

sexta-feira, 14 de maio de 2021

NJILA

Divindades: Njila Tata Kisaba Kavinajé(*) Pambu Njila é o agente de ligação entre o espaço físico e o espaço místico. É a ponte de ligação entre os seres humanos e os Minkisi. É o mensageiro, não essencialmente mau ou essencialmente bom, desempenha seus papéis e funções no espaço destinado ao culto.Aluvaiá é lançado como síntese de um pensamento social voltado ao sentimento mais humano à proximidade e identidade com o próprio homem, sem no entanto, colocá-lo distanciado do elenco místico. É aquele que gera o ciclo patronal dos Minkisi, estará acionando o próprio fundamento de tudo que possa entender de sagrado e significativo ao vínculo dos Minkisi e seus filhos.Sua inzo (casa) sempre a entrada dos barracões é a sua marca de guardião, sempre alertando e avisando e protegendo, é o compadre o amigo e guardião. Sem dúvida na velocidade dos seus caminhos, incomensuráveis pelo tempo, ocorre e corre sua fluidez, sabe do ontem, do hoje e do amanhã.É o Senhor dos Caminhos. Responsável pela guarda de nosso portão, ou seja, aquele que recebe a maiaca kindele (farinha branca) e a maiaca kianguim (farinha vermelha) e permanece em nosso portão, mantendo a ordem até o término do toque. Pambu Njila se caracteriza como Nkisi. É o que está mais próximo aos serem humanos e vários são seus caminhos. Alguns caminhos de Pambu Njila: Malele Mavile Sinzamuzila Mavambo Imbé Berequeté Kijanjá Mavilutango – responsável direto pela ordem do barracão. É o que recebe, realmente a maiaca. A ele saudamos e pedimos a segurança do Portão, para o bom andamento do Jamberessú (Siré). Quando dizemos que depachamos, não é a Pambu Njila que estamos despachando e sim, estamos o enviando a nossa porta para segurar as brigas, os invejosos, pontos de morte e espíritos perturbadores. Muitos usam o termo – “vou despachar Exú ou Pambu Njila” – o que na verdade deveria ser – “vou despachar a porta e lá deixar Mavilutango para fiscalizar e neutralizar as kizilas. É possível afirmar que se trata da vibração, da força, que interliga Nsi (Terra) e Duilo (céu). Pambu Njila atua como um interlocutor entre o profano (terreno) e o sagrado – condições constituintes deste Nkisi – que, sem dúvida alguma, trafega tanto pelo universo sobrenatural (mundo das forças inexplicáveis), para o qual buscamos explicações, e, também, pelo mundo material (morada dos seres humanos e de todas as coisas vivas que conhecemos). Essa energia, classificada como Pambu Njila, Mavile, Aluvaiá, etc, funciona como um elo e é o limite entre o astral e o material. As suas cores – o preto e o vermelho – afirmam alguns autores, significam: “o vermelho emana uma vibração de menor espectro visível ao olho humano, abaixo da qual tudo é negro, há ausência de luz”. Dizem, ainda, analisando por um outro ponto de vista: “o negro significa em quase todas as teologias o desconhecido; o vermelho é a cor mais quente, a forte iluminação em oposição à escuridão do negro.” Vejam que até em suas cores há contradição! Esta imensurável contradição, somada ao poder que lhe conferido para comunicar e ligar confere-lhe também o oposto, isto é, a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação. Portanto, a esta energia atribui-se o poder de construir e destruir, condição identicamente verificada nos seres humanos. Pambu Njila, aquele que sob as orientações diretas de Nganga Nzambi, assumiu a responsabilidade de atuar como condutor do complexo material, isto é, Nzambi criou o Universo animal, vegetal e mineral e os entregou a Pambu para, nos limites estabelecidos, administrá-lo. É POR ISSO QUE DISSEMOS QUE ELE É A FONTE DE COMUNICAÇÃO REAL ENTRE NÓS, OS DEMAIS MINKISI E NGANGA NZAMBI. (*) Espedito Azevedo é filósofo, especialista em Administração Legislativa e Gerenciamento de Projetos. Iniciado por Jiboin d’Nzambi é hoje Tata Kisaba do Terreiro Tumbalê Junçara, dirigido por Tata Talamonakô. Compartilhe isso:

segunda-feira, 5 de abril de 2021

MUTALO

 Divindades: Mutalo

Texto de João Vicente Martins, revisado por Mam’etu Nibojí (*)
Mutalo é o espírito das pessoas que são mortas pelos feiticeiros, sem que Nzambi mande. Este ordena-lhes, então, que regressem aos seus corpos nas sepulturas mas dá-lhes, à noite, a faculdade de matar quem eles bem entenderem.
Mutalo apresenta-se na forma de um pigmeu. Visto de longe, é preto; de perto, parece ser feito de nevoeiro sem qualquer outro dedo, em cada mão ou pé, que não seja o indicador.

Cheira muito mal, tem os pés virados ao contrário e chora como as crianças. Durante a noite, entra nas casas das pessoas e come a matamba (guizado de ervas cozidas e picadas) e o pirão, de que gosta muito, e bebe toda a água que estiver em copos ou panelas. É por isso que os Tutchokwe não deixam água nem matamba em tais recipientes, pois pode o Mutalo tocar-lhe e, se depois alguém comer ou beber os restos, morrerá. Geralmente também não comem a horas adiantadas da noite, pois que, desta forma, algum Mutalo que estiver perto, comeria com eles sem que disso se apercebessem, senão depois do seu cheiro característico lhes invadir as narinas. Isto se dá por que todos os espíritos se tornam invisíveis ou visíveis quando querem. Desta forma, as pessoas poderiam morrer se o Mutalo metesse o seu maligno dedo na comida.

Mutalo anda sempre com o katemo (enxada), que tinha quando morreu e com o qual mata quem quiser. Como ele mata muita gente, quando começa a morrer elevado número de pessoas e alguém diz tê-lo visto na aldeia, é chamado o tahi ou kabuma (Nganga), que vai ver todas as sepulturas até encontrar a do morto que Nzambi transformou em Mutalo e que, por tal motivo, seu corpo se mantém intacto. O tahi verifica isto por um pequeno orifício, qual toca de rato, existente sobre a sepultura e tapado ao centro com um bocadinho de capim seco. O kabuma, então, passa um remédio que só ele conhece, constituído por um pó que traz num recipiente, pela testa dele, dos seus dois ajudantes e daquele que lhe foi mostrar o cemitério(1) . Em seguida, sopra um pouco do mesmo pó, na direção da sepultura, onde nesse momento, se produz um ruído estranho comparado com fortes rajadas de vento. Então o kabuma avança para a sepultura dizendo: Hola-ku, hola-ku (cala-te, cala-te). O ruído extingue-se guando o kabuma deita a terceira porção de pó no orifício tapado com a erva seca. Feito isto, seus ajudantes fazem ao lado da sepultura uma grande fogueira e outros desenterram o cadáver do suposto Mutalo, que aparece sentado a chorar. Se for mulher apresenta-se com a cabeça coberta de mukundu(2). Logo que o desenterram, este diz: Kutche nu neza kuno hanga nu-ngu-chehe naw? Nganga ka-ngu-chehie kulo? (para que vêm aqui matar-me outra vez se o feiticeiro já me matou há muito tempo?).

O kabuma, como resposta, lança-lhe mais um pouco de pó mágico e diz-lhe: Holá-ku, ku myaka yeswe (cala-te para sempre). Nesse momento, o cadáver do suposto Mutalo decompõe-se, ficando apenas o esqueleto que é lançado pelo kabuma na fogueira, onde é reduzido a cinzas. Parte destas guarda-se para fazer o remédio com que matará outros espíritos malignos.

No fim de tudo isto, o kabuma mata o cabrito que o chefe da aldeia, por ele libertada do Mutalo, lhe dá; come-lhe o coração e o resto da carne distribui aos habitantes do sexo masculino moradores da aldeia; as mulheres se comessem aquela carne ficariam estéreis.

O kabuma permanece ainda algum tempo na aldeia e quando se vai, recebe três cabeças de caprino como recompensa.

Quando alguém é apanhado pelo Mutalo e não morre, são-lhe feitos exorcismos junto a um rio.

(1) Dizemos cemitério porque eles enterram os corpos em qualquer parte, exceto os chefes que o são em suas casas ou no cruzamento dos caminhos, sentados em suas cadeiras, ou nos leitos dos rios.

(2)Refere-se aos toucados de argila que as mulheres tutchokwe, e de diversas outras tribos, usavam antigamente.

Fonte: Martins, João Vicente – Crenças, Advinhações e Medicina Tradicionais dos Tutchokwe do Nordeste de Angola.

Compartilhe isso:

sábado, 6 de março de 2021

MIONDONAS

 Divindades: Miondonas

 Kwzola dya Nzambi (*)
 

Na sequência do ritual do SANTU DE CAZOLA (publicado em ARTIGOS), quero aqui explicar o que significa miondonas, na cultura mística de Angola e sua relação com o Santu de Cazola:
Entre os angolanos de descendência bantu, existe a crença, de que todos os seres humanos, durante toda a sua vida, são protegidos por um conjunto de seres espirituais, conhecido por “Santu de Cazola”. Conjunto de anjos da guarda, que formam um “Santu”, que são disponibilizados por Nzambi (Deus), na ocasião do nascimento e terminam a sua missão na terra com a morte do indivíduo e continuam a acompanha-lo na vida após a morte.

O SANTU DE CAZOLA, guias ou anjos da guarda, são uma dadiva de Deus a todos os seres humanos. O relacionamento com esses seres espirituais, varia de cultura para cultura. Em Angola o Santu de Cazola deve ser tratado através de um ritual simples que envolve a mesa dos santos (comidas e bebidas doces), banho de purificação…. Quando o SANTU DE CAZOLA não é tratado ocorre a dispersão do mesmo e a pessoa passa a ter diversos problemas na vida, tanto espirituais, quanto materiais.

A dispersão dos santos dos nossos antepassados, é conhecido como miondonas (assuntos de família), que podem ser da parte do pai como da parte da mãe. Acredita-se que essa dispersão, acontece mais na parte do pai.

Dispersão do Santu de Cazola dos antepassados, somada a dispersão dos Santu de Cazola da própria pessoa, fazem um estrago na vida dessa mesma pessoa.

Para resolver a situação, devemos tratar o Santu de Cazola da pessoa vítima de ambas as dispersões e fazer um ritual para enterrar o Santu de Cazola dos antepassados, que ficaram dispersos, na ocasião da morte do membro da família, que tinha os guias dispersos (pai, ou mãe), que também podem ter sido vitima da dispersão do Santu de Cazola dos seus antepassados.

Kandandu

Kwzola

(*) Rosário Fernandes é formada em naturalismo e medicinas orientais pelo Stonebridge Associated Colleges da Inglaterra, pesquisadora de medicinas tradicionais antigas, atuante na área de medicinas complementares.

Compartilhe isso: