domingo, 21 de dezembro de 2014

Ikú


Ikú é um Orixá

Posted by Fernando D'Osogiyan
Ikú, a Morte é um Orixá, designado por Olodumare para uma função derradeira. Existem e são raríssimas, pessoas de Ikú que, evidentemente, não são iniciadas, cumprem normalmente seu destino e tem funções específicas num Ilê Axé.

Oyekú Mejí é primeiro caminho à terra, quando o Odú Oyekú Mejí chegou à Terra, a morte ainda não existia. Orixá Ikú (morte) nasce nesse caminho para cumprir sua função na Terra, Opirá. (FIM).

Oyekú Meji representa essencialmente a Morte, a profunda escuridão, representa também o lado esquerdo, o este e o princípio feminino.

Ikú vem buscar a pessoa no dia derradeiro e esteja nas condições que estiver, para levá-la de volta ao interior da terra, ao ventre de Nanã.

Ikú cumpre rigorosamente sua função e somente aqueles que conhecem os omo-odús de Oyekú Mejí, poderá conversar com a morte, e por um breve tempo. Somente através do Imolê Exú e num determinado Odú é e que se faz oferendas a Ikú, estabelecendo pactos e acordos com Ikú para adiar e afastar a morte, aliado aos bons ebós.

Pai Agenor dizia que: a troca pela vida, através de oferendas, é o ponto central do culto aos Orixás, a vida, nada mais é, que a mais valiosa de todas as trocas e também a mais cara.

As trocas não são eternas, chegará o dia que Ikú terá que cumprir sua função e ainda exigirá oferendas, para garantir que só levará apenas um. Há casos famosos de zeladores que depois de mortos, Ikú voltou algumas vezes para cobrar sua oferenda e não encontrando levava seus filhos, acabando muitas vezes, com a casa de candomblé.

Com Ikú não se brinca, quando Ikú chega o nosso Orixá não está mais conosco, sabe que já cumpriu sua função e somente Orí acompanha a pessoa até o fim.
Axé.
Fernando D’Osogiyan

Dayane em Junho 18, 2011 às 2:11 pm

O texto está bastante claro e direto, como de costume.
A minha dúvida só consistiu na questão do “gênero” de Ikú. Sei que isso não é um fator de super relevância, mas Beniste define a morte como sendo um “personagem masculino” e mostra itans do odu Oyekú meji que justificam esta afirmação, ao falar que Ikú começou a matar desmedidamente depois de ter sua mãe espancada e morta, etc, etc, etc. E ainda cita a suposta esposa de Ikú, Olójòngbòdú, no desenrolar do itan.

Fernando D'Osogiyan em Junho 18, 2011 às 2:57 pm
Dayane,

A morte é um Orixá que não tem gênero, Beniste se refere a Itans para justificar uma condição que não existe, muitos estorias foram criadas em torno de Ikú e essa é mais uma de dezenas.
Oyekú é um caminho que já existia antes do nada, na plena escuridão de tudo e, é por esse caminho que nasceu a morte, no útero da Terra, para onde iremos um dia. Sua energia é única e seu propósito derradeiro.
Muitas vezes leio Itans antigos ditos de Ifá que não explicam na essência o que de fato querem dizer, criam exemplos distorcidos, enrolações de odú, afirmativas que vão acima do próprio Olorun e de situações simples como por exemplo, o sexo da morte.
Encontraremos no passado várias pestes que se abateram pelo mundo e até hoje, ainda somos surpreendidos por elas, matando milhares de pessoas, veremos bomba atômica, guerras sem fim, HIV, cancer, tsumames, furacões,fome, um infinidade de víris e doenças, até a DENGUE aqui no Rio de Janeiro tem matado muito nos últimos anos. Será que a morte ainda está com raiva que mataram e espancaram a sua mãe e por isso não para de matar?
São reflexões que temos que fazer, atualizar nossa mente ao nosso tempo, a renovação constante do nosso hálito ao axé o combustível da vida religiosa.
Axé.

Dayane em Junho 18, 2011 às 3:33 pm
Pois é, Fernando.

Tento fazer a linha contrária daqueles que ouvem o galo cantar não se sabe aonde e saem repetindo. Por isso, da forma como me cabe pela minha idade, pergunto. 
Muito vemos em livros, internet e até na oralidade algumas contraditoriedades que só a convivência na religião e o ato da reflexão nos salvam de ideias infames.
Meu questionamento foi mais por causa dessa contrariedade mesmo: “o princípio feminino” e o “gênero masculino”. Como o senhor esclareceu, está esclarecido e agora eu tenho mais uma vertente pra refletir e concluir.
Sobre as pestes e a revolta de Ikú, no itan mesmo fala que isso foi logo controlado a partir das oferendas direcionadas a ela. Daí em diante Ikú passou a atuar respeitando o tempo e os caminhos que cada um traz na sua passagem pelo aiyê, respeitando os designos de Olodumare.
Contraditoriedades à parte, o que pude perceber nesse itan é que Ikú, assim como todas as energias criadas com papéis específicos por Olodumare, apresenta características “humanas” bem completas e complexas, onde a “santidade” – sempre tão mensionada e ovacionada pelos cristãos – não é uma prerrogativa essencial. Denotando mais uma vez a nossa necessidade de manter o equilíbrio e harmonia entre as energias, fato onde entra o papel das oferendas até mesmo citadas pelo senhor no texto.
No fim, refletir sobre estes temas sempre nos enriquece dentro da religião e desenvolve um sistema de “auto-identidade” e aproximação em relação às nossas origens.

Como eu já lhe disse: o senhor é O Cara. hauhauhauha

Na África existe um culto dedicado somente a Orisá Iku?
E se existe como é q funciona?


Minha proposta é sempre pela simplicidade com sabedoria, ficar dando exemplos para justificar o ÓBVIO nos dias de hoje é perda de tempo, sinceramente. Tudo é muito atual, muito rápido, limpo e mais inteligente.

Ikú não nos cobra o tempo de vida, muito pelo contrário, não interfere em nosso livre arbítrio, em nosso odú, a vida de um candomblecista é quase que diariamente um eterno Ebó. Para que serve o Ebó no candomblé? Para apaziguar o nosso caminho até Ikú.

Estão aí os grandes zeladores, pra lá de octogenárias Iyalorixás, Babalorixás, Egbomis, Oloyès, Oluwòs, que respeitam um Ebó através de um “sonho”, do ‘tempo”, do “cheiro no ar”, dos “sinais”, “Babá egun” , dos “repentes intuitivos”, etc, e principalmente de “Exú”. Assim cuidamos do Orixá Ikú.

Fernando D'Osogiyan em Junho 19, 2011 às 2:46 pm
Fabricio,

Não existe culto para Ikú específicamente, como descrevi acima, cuidamos do caminho que nos levará a Ikú e posteriormente após nossa morte, cuidaremos do nosso Egun através do ritual de axexê.

Axé.

Janaína Corrêa em Junho 20, 2011 às 7:17 pm
Deixe-me ver se entendi: Ikú seria o “grand finale” de nossas vidas, quando não se cabe mais pleitear por ela? Conversar com a morte não quer dizer conversar com quem já se foi ou é? Pois sonho com muita gente que se foi, quando não, vejo a passagem completa, seja do nascimento, seja do fim. “Quando um zelador falece o Ikú vem buscar oferendas através de seus filhos…” é por isso que fazemos vume?

Fernando D'Osogiyan em Junho 20, 2011 às 8:08 pm
Janaína,

Ikú pode receber oferendas se Orunmilá nos indicar que tem caminho, caso o contrário é o FIM.

Não confunda Ikú com Egun, a morte simplesmente cumpre sua missão, o egun é a energia de quem já morreu, só isso.

Quando um zelador ou qualquer pessoa iniciada na religião morre, Ikú já cumpriu com seu papel. O que se procede após a morte são os rituais de Axexê que é o encaminhamento do Egun para junto dos seus ancestrais. A Tirar a mão de Vume é uma obrigação com objetivo de desapego da energia do zelador falecido de seu Orí.

Axé.
Janaína Corrêa em Junho 20, 2011 às 8:11 pm


Alex em Julho 2, 2011 às 2:31 am
A minha dúvida é a seguinte: existe mesmo pessoas cujo Orixá é Iku? E se existem, quais são as características dessas pessoas?

Da Ilha em Julho 2, 2011 às 3:03 am
Alex, não existem pessoas de Ikù.
Um òrìsá que tem por finalidade resgatar a materia prima, o barro, que foi fornecido a Obatalá para modelar nossos corpos.
Existe uma lenda muito grande sobre o assunto um dia desses postaremos.

Quando acontece de AbIkú responder em Ejíokò, detecta-se a presenta forte do Orixá Ikú. Um enorme ebó de carrego é feito para este Orixá, normalmente Oxalá ou Nanã irão cuidar da Abí desse Orí, sendo assim, intrinsecamente existem pessoas que são parte de ikú e precisam da energia de Ikú para nascer. Um assunto complexo e fechado nas grandes casas de candomblé. Quem vai dizer que é de Ikú? Mas, muitos são Abikús, e para serem abikús, tem que entender a presença do Orixá Ikú em suas vidas.

Matéria postada no site Rede Afrobrasileira, que dou os créditos de direito.



"Quando os missionários chegaram, os africanos tinham a terra e os missionários tinham a Bíblia. Eles nos ensinaram a rezar de olhos fechados. Quando nós os abrimos, eles tinham a terra e nós tínhamos a Bíblia"