domingo, 11 de julho de 2021
OS GÊMEOS
Variedades: Os gêmeos
Retirado do livro Volta ao Mundo em 52 Histórias, de Neil Philip e Nilesh Mistry.
Mama Maza Kessy
Uma mulher deu à luz dois gêmeos e os chamou de Mavungu e Luemba. Eles já nasceram adultos, cada qual com seu talismã. Por essa época a filha do chefe Nzambi atingiu a idade de se casar. Muitos pretendentes se apresentaram, porém ela recusou a todos. Ao saber desses acontecimentos, Mavungu decidiu tentar a sorte. Rogou a seu talismã que o ajudasse e partiu, chegando à aldeia do grande chefe após uma caminhada de muitos dias.
Assim que o viu, a filha de Nzambi correu para a mãe e declarou: “O homem que eu amo está aqui, e morrerei se não me casar com ele”. O casamento foi celebrado sem demora, e ao fim da cerimônia os jovens foram conduzidos à linda cabana nupcial, enquanto a aldeia inteira comemorava sua união com danças e cantorias.
Na manhã seguinte Mavungu notou que uma série de espelhos revestia as paredes da cabana, todos cobertos com um pano. Pediu à esposa que os descobrisse e neles viu as imagens de sua aldeia e daqueles pelas quais passara em sua viagem.
Apenas um espelho a filha de Nzambi não descobriu. “Ele mostra a aldeia da qual nenhum viajante retorna”, explicou. Contudo, Mavungu insistiu tanto que a moça acabou fazendo sua vontade.
“Preciso ir até lá…”, disse o rapaz ao se deparar com a imagem fatídica, e de nada adiantou sua esposa lhe implorar que não fosse.
Chegando a seu destino, Mavungu encontrou uma bruxa. Pediu-lhe fogo para acender o cachimbo, e ela o matou. Preocupado com o irmão, Luemba decidiu procurá-lo. Ao vê-lo, o chefe Nzambi exclamou, feliz: “Meu genro, você voltou!”.
Luemba explicou que não era Mavungu, e sim seu irmão gêmeo, porém, como de nada adiantou, deixou-se conduzir à cabana nupcial. Naquela noite rezou com fervor, suplicando a seu talismã que o ajudasse, pois pressentia que tinha uma difícil missão a cumprir.
Ao despertar na manhã seguinte, viu os espelhos cobertos, pediu à esposa de seu irmão que o descerrasse e tomou conhecimento da sinistra aldeia da qual nenhum viajante regressava. “Preciso ir lá”, declarou.
“De novo?”, a filha do chefe perguntou, pois, como seu pai, acreditava que ele era seu marido.
Luemba partiu e encontrou a bruxa. Pediu-lhe fogo e, antes que ela pudesse fazer um gesto, matou-a com um só golpe. Então pegou os ossos do irmão, tocou-os com seu talismã e os trouxe de volta à vida. Juntos, os dois reuniram todos os ossos espalhados naquele verdadeiro cemitério a céu aberto e com seus talismãs, ressuscitaram as vítimas da bruxa.
Assim, conquistaram centenas de seguidores fiéis e voltaram, vitoriosos, para a aldeia de Nzambi, onde demonstraram a todos que eram irmãos.
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sábado, 10 de julho de 2021
SUKO
Divindades: Suko
Mam’etu Nibojí(*)
Quando uma pessoa está alucinada ou faz prodígios, toda a gente diz que tem o Suko dentro de si. Afirmam, até, que se o Suko disser ao paciente para se atirar a um rio, cheio de crocodilos, ele obedecerá e sairá de lá sem uma beliscadura sequer. Poderá pôr tições a arder sobre qualquer parte do corpo, sem que se note alguma queimadura.
Quando isto acontece, o doente vai ao adivinho de Ngombo. Se este lhe disser que tem o Suko, é chamado o tchimbanda que lhe faz os exorcismos, obrigando o Suko a sair do corpo do paciente.
Uma das canções entoadas durante os exorcismos é a seguinte:
Tchimbanda: Suku mwana wa Nzambi (Suko filho de Deus)
Coro: Yééléé yééléé
Tchimbanda: Fambuka ha mujimba wa mutfu (Sai do corpo da pessoa)
Coro: Yééléé yééléé
Tchimbanda: Hanga urya ifu nyi manyinga (Para que comas carne e sangue)
Coro: Yééléé yééléé
Tchimbanda: Mbá mutfu a-hintuke (Para que a pessoa fique sã)
Coro: Yééléé yééléé.
Enquanto cantam, o tchimbanda vai fazendo riscos, por todo o corpo do paciente, com pemba e mukundo. Ao mesmo tempo, dá-lhe a beber determinada droga, feita de vegetais, e asperge sobre ele o mesmo remédio, de vez em quando, com uma espécie de hissope feito de ervas.
Isto repete-se, até que o espírito saia do corpo do paciente, o que se verifica por fortes estremecimentos e contrações. Quando estes se prolongam durante muito tempo, o tchimbanda fá-los parar, pondo uma folha de árvore, atravessada em dois sítios por um palito, que depois segura no cabelo do doente, ficando a folha sobre a cabeça e na qual dá três pancadas com a mão direita, espalmada, dizendo: Hola (cala) rituamina (deixa) hanga mutfu a-hintuke (para que a pessoa fique sã).
Logo que o espírito abandona o corpo doente, o tchimbanda apresenta-Ihe um galo ou cabrito vivo. Então, o paciente, com um furor de louco, de animal selvagem, corta-lhe as artérias do pescoço com os dentes e chupa-lhe, algum sangue. Depois, com o sangue a brotar do pescoço do animal, vai regar duas estatuetas de madeira, com uma espécie de altar, representando o Suko e esposa. Se o animal imolado for um galo, deixa-lhe lá a cabeça que cortou com os dentes. Em seguida, o coração e todos os órgãos interiores do animal são cozidos e comidos pelo paciente. Metade do galo dá-la-á à sua primeira mulher, se for casado. Se se tratar de cabrito, comerão ambos a totalidade dos órgãos interiores, uma perna e todo o tronco deste, repartindo também com o Suko e esposa, representados pelas estatuetas já citadas. Ao mesmo tempo rezam-lhe para que os deixem em paz. Nessa noite, o doente terá relações com a mulher que ajudou a tirar-lhe o espírito do corpo. Dali para o futuro, em todas as luas-novas, rezará e polvilhará o Suko e esposa com farinha de mandioca.
Além disto, o tchimbanda dá-lhe uma cabacinha cheia de um pó por ele preparado, para que, sempre que tenha sintomas de possessão, tire um bocadinho e esfregue com ele as costas das mãos, os ombros, os temporais e a testa, para afugentar tal espírito.
Fonte: Martins, JOÃO VICENTE; Crenças, Adivinhações e Medicina Tradicionais dos Tutchokwe do Nordeste de Angola.
(*) Elizabeth B.Azevedo é graduada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Matemática Financeira. Iniciada no candomblé em 1986, filha de Danguesu, neta de Saralandu, bisneta de Kianvulu e atualmente filha do Tumbalê Junçara-BA.
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