domingo, 11 de julho de 2010

CARGOS NO CANDOMBLÉ

                                                                   EKEDI

     A estrutura social do candomblé é muito semelhante a das famílias matriarcais ou patriarcais. A escala de valores dentro dessa família, é de suma importância para o bom desenvolvimento da própria religião, utilizando-se de nomenclaturas em yorubá para designar cargos específicos, com seus deveres e responsabilidades.
     Um dos cargos femininos mais conhecidos no candomblé do Brasil, são as Ekedis que, assim como os Ogans, são suspensas para a iniciação e não se ocupam (imcorporam) pois precisam estar conscientes para atender as necessidades dos Orixás.
     A palavra "ajoié" é correspondente feminino de ogan, pois a palavra ekedi, ou ekejì, vem do dialeto Ewe, falado pelos negros fons ou je. Portanto, o correspondente yorubá  de ekedi é ajoié (mãe que o orixá escolheu e confirmou).
     Em dias de festa, uma ekedi deverá vestir-se com seus trajes rituais, seus fios de contas, um ojá na cabeça, e no ombro sua inseparável toalha, sua principal ferramenta de trabalho e também simbolo do Oyé, ou cargo que ocupa. A toalha de um ekedi, destina-se, entre outras coisas, a enxugar o rosto dos orixás manifestados. Uma ekedi ainda é responsável pela arrumação e organização das roupas que vestirão os babalorixás nos dias de festas, como também, pelos ojás (faixas adornadas de contas e conchas), que enfeitarão várias partes do Ilê nestes dias.
    
as a tarefa de uma ekedi não se restringe apenas a cuidar dos orixás, roupas e outras coisas. Uma ekedi também é porta voz do orixá em terra. É ela que em muitas das vezes transmite ao babalorixá ou ialorixá o recado deixado pelo próprio orixá da casa.
     As ekedis também são conhecidas como "Iyárobá",no Gantois, e como "Makota de Angúzo", na nação de Angola, mas o termo de origem Jêje, ekedi, foi o que mais se popularizou no Brasil

sexta-feira, 9 de julho de 2010

RITUAIS E CULTO AOS ANCESTRAIS

                                                    VALORES E ÉTICA NO VODU

     Os valores culturais que o vodu engloba centram em torno das idéias da honra e do respeito - ao Deus, aos espìritos, à família e à sociedade, e a si mesmo. Há uma idéia plural de apropriado e de impróprio, no sentido que o que é apropriado a alguém com Danbala Wedo com sua cabeça pode ser diferente de alguém com Ogou Feray como sua cabeça, porque, por exemplo, um espírito está muito frio e o outro está muito quente. A frieza geral é avaliada, assim como a habilidade e inclinação de proteger-se aos seus se necessário. O amor e a sustentação dentro da família da sociedade do vodu parecem ser a consideração mais importante. A generosidade em dar à comunidade e aos pobres é também um valor importante. As dádivas vêm através da comunidade e há a ideia que deve-se ser disposto a retribuir por sua vez. Desde que vodu tem tal orientação da comunidade, não há "solitários" em vodu, somente as pessoas separadas geograficamente de seus antepassados e casa.

                                                                    RITUAL


     Voduns não usam roupas luxuosas, não gostam de roupas de festas e geralmente preferem a velha e boa roupa de ração. As danças são cadenciadas em um ritmo mais denso e pesado. Os  Voduns estão sempre de olhos abertos e salvo algumas excessões, conversam (usando preferencialmente um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura.

                                                                  INICIAÇÃO

     A iniciação aos cultos dos voduns é complexa e longa e pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetidos a uma dura rotina de danças, preces, aprendizagens de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.

                                                          CERIMONIAIS VODU

     Geralmente, as cerimônias são realizadas no período noturno. Fazem parte do ritual: bebidas de rum, frutas e jarros de barro. As bebidas e comidas são erguidas e oferecidas aos Loas, para invocá-los. No intuito de alegrar essas entidades, os voduístas lhes oferecem também sacrifícios de aves, porcos, galinhas, bodes e afins. Após as oferendas com danças, os loas possuem os corpos de seus súditos.
     No vodu, mais ou menos como ocorre na umbanda, as danças em volta da ponteau-mitan são de suma importância, pois servem para se obter a espiritualidade: as pessoas que se envolvem com a dança são mais rapidamente possuídas. Para cada divindade existe um tipo de música, instrumentos e rítimos específicos, segundo o gosto de cada loa, que exige que tudo seja purificado e consagrado para o ritual.
     As serpentes também fazem parte de alguns cerimoniais. No ritual chamado mambo, o réptil é retirado de um cesto e posto bem próximo do rosto da sacerdotisa que, ao tocar no animal, recebe, supostamente, visão especial e poderes sobrenaturais.
     Segundo a crença vodu, os primeiros homens criados eram cegos e foi justamente a serpente que conferiu visão à espécie humana.
                                    
                                                           BONECO  VODU

     Sem dúvida, o boneco vodu, é o primeiro elemento que vem à mente dos leigos, quando se fala em voduísmo. Tal objeto é empregado para invocar os poderes dos deuses do vodu e recebe o nome de fetiche, que significa feitiço.O fetiche é confeccionado por quem irá realizar o trabalho de magia e, em quanto é feito, as pessoas tem de mentalizar os objetivos que quer alcançar com o ritual e "transmitir" sua energia ao boneco.
     O fetiche deve ser feito com a semelhança anatômica de uma pessoa: cabeça, tronco e membros. Partes indispensáveis para a "eficácia" da magia são os órgãos genitais masculinos ou femininos. O boneco precisa ser batizado com o nome da pessoa que irá representar e, geralmente é feito com massa de modelar, nunca de pano ou outro material.
     De acordo com alguns sacerdotes, tais bonecos são feitos para realizar o bem, para se alcançar prosperidade e curas. O que a pessoa precisa fazer é perfurá-los com espetos ou alfinetes. Mas na prática as intenções nem sempre são essas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O VODU E SUA HISTÓRIA

     A maioria dos africanos que foram trazidos como escravos para o Haiti eram da Costa do Guiné, da Àfrica Ocidental, e seus praticantes são os primeiros praticantes do Vodu.
     A sobrevivência do sistema de crenças no novo mundo é notável, embora as tradições mudem com o tempo. Uma das maiores diferenças, entretanto, entre o Vodu africano e o Vodu haitiano, é que os africanos transportados para o Haiti foram obrigados a disfarçar o seu Iwa, ou espíritos, como santos católicos, um processo chamado sincretismo, numa tentativa de esconder de seus senhores que os tinham proibidos de praticar a sua religião nativa.
     O vodu haitiano é a mistura das religiões africanas ocidentais, um verniz do catolicismo romano, com numerosas influências indígenas Taíno e do paganismo europeu. O vodu, como conhecemos no Haiti e na diáspora haitiana hoje, é o resultado das pressões de muitas culturas e etinicidades diferentes dos povos que foram desarraigados da África e importados durante o comércio africano de escravos. Sob a escravidão, a cultura e a religião africana foram suprimidas, as linhagens foram fragmentadas, e as pessoas tiveram que ocultar seu conhecimento religioso, e, a partir desta fragmentação tornou-se unificada culturalmente.
     Nas rezas e elementos perdidos, partes da liturgia católica foram incorporadas; além disso, as imagens de santos católicos são usadas para representar os vários espíritos ou " misteh" ( mistérios, o termo preferido no Haiti ), e muitos santos mesmos são honrados no vodu em seu próprio direito.
     A cerimonia mais importante historicamente do vodu na história do Haiti era a cerimônia Bwa Kayiman ou Bois Caïman de agosto de 1791, que começou a revolução haitiana, em que o espírito de Ezili Dantor possuía um clérigo e recebia um porco preto como oferenda, e todas pessoas presentes comprometeram-se com a luta pela liberdade.Esta cerimônia resultou finalmente na libertação dos povos do Haiti da dominação colonial francesa em 1804, e o estabelecimento da primeira república dos povos negros na história do mundo.
     Este vodu haitiano cresceu nos Estados Unidos de forma significativa a partir do final do ano de 1960 e começo do ano de 1970 com as levas de imigrantes haitianos fugindo do regime opressivo de Duvalier, estabelecendo-se em Miami, Nova Iorque, Chicago e outras cidades.

                                                                   CRENÇAS
     No vudu haitiano acredita-se , de acordo com tradição africana difundida, que há um Deus que é o criador de tudo, chamado de "Bondje" ( do francês  bon Dieu ou bom Deus ), distinguindo do Deus dos brancos em um discurso dramático pelo Houngan Boukman em Bwa Kayiman, mas é considerado frequentemente o mesmo Deus dos cristãos de maneira informal. Bondje é a distinção de sua criação e assim é que são os espíritos ou os "mistérios", "santos", ou "anjos"que o vuduísta invoca para ajudá-lo, assim como os antepassados. O vuduísta adora o Deus, e serve aos espíritos, que são tratados com honra e respeito como se fossem membros mais velhos de uma casa.
     Diz-se que são vinte e uma nações ou "Nanchons" dos espíritos , também chamado às vezes "Iwa-yo". Algumas das nações mais importantes do Iwa são o Rada, o Nago, e o Gongo. Os espíritos vêm também nas famílias que compartilham de um sobrenome, como Ogou, ou Ezili,ou Azaka ou Ghede. A família de Ogou é de soldados, o Ezili governa as esferas femininas da vida, o Azaka governa a agricultura, o Ghede governa a esfera da morte e da fertilidade. No vudu dominicano, há também uma família de água doce ou "das águas doces", que abrangem todos os espíritos dos índios. Há literalmente centenas de Iwas. Os Iwas mais conhecidos são Danbala Wedo, Papa Legba Atibon, e Agwe Tawoyo.
     No vudu haitiano os espíritos são divididos de acordo com sua natureza em basicamente duas categorias, que são quentes ou frios. Os espíritos frios entram sob a categoria Rada, e os espíritos quentes entram sob a categoria Petro. Os espíritos de Rada são familiares e vem na maior parte da África, e os espíritos de Petro são na maior parte espíritos  nativos do Haiti e requerem mais atenção ao detalhe do que o Rada,mas ambos podem ser perigosos se irritados ou contrariados.Nenhum é bom ou mau com relação ao outro. Diz-se que todos possuem espíritos, e cada pessoa é considerada como tendo um relacionamento especial com um espírito particular, que é dito "possuir sua cabeça", porém uma pessoa pode ter um Iwa, que possui sua cabeça, ou "met tet", que pode ou não ser o espírito mais ativo na vida de alguém, de acordo com os haitianos. Ao servir os espíritos, o vuduista busca conseguir a harmonia com sua própria natureza individual e o mundo em torno dele, manifestado como fonte de poder pessoal relacionado à vida. parte desta harmonia é preservar o relacionamento social dentro do contexto da família e da comunidade.
     Há um clero no vudu haitiano, cuja responsabilidade é preservar os rituais e as canções e manter o relacionamento entre o espírito e  a comunidade como um todo( embora isso seja responsabilidade de toda comunidade também). Encarregados de conduzir o culto a todos os espíritos de sua linhagem, os sacerdotes são conhecidos como Hougans e sacerdotisas como Manbos. Abaixo dos hougans e das manbos estão os hounsis, que são os noviços que atuam como assistentes durante cerimonias e que são dedicados a seus próprios mistérios pessoais. Ninguém serve a qualquer Iwa, somente ao que se tem de acordo com o próprio destino ou natureza. Os espíritos que uma pessoa tem pode ser revelado em uma cerimonia, em uma leitura, ou nos sonhos.Entretanto, todo vuduista serve também aos espíritos de seus próprios antepassados de sangue, e este aspecto importante da prática do vudu é frequentemente subestimado pelos comentadores que não compreendem seu significado. O vudu e muitos Iwas como Agassou ( um antigo rei de Daomé), por exemplo, são de fato, ancestrais que foram elevados à divindade.
     Agassou seria filho de uma mãe humana e de um pai leopardo

NAÇÃO XAMBÁ - CANDOMBLÉ

     A nação xambá, é uma tradição religiosa de origem africana, dentre as inúmeras que existem no Brasil. Aqui ela surgiu em Maceió, Alagoas, tendo como seu principal disseminador, o babalorixá Artur Rosendo Pereira, que na década de trinta, se tornou um dos mais conceituados deres religiosos de Recife
     Diversos autores apontam o povo Xambá, ou Tchambá, como povos que habitavam a região ao norte de Ashanti e limites da Nigéria com Camarões, nos montes Adamauá, vale do rio Benué.
     No início da década de 1920, o babalorixá Artur Rosendo Pereira, fugindo da repressão policial às casas de culto afro-brasileiro, deixou Maceió e passa a morar no Recife. Na capital de Pernanbuco, na rua Regeneração, no bairro de Água Fria, por volta de 1923, reinicia suas atividades de Zelador de Orixás, segundo os rituais e tradições da Nação Xan, cujos axés foi buscar na Costa da África.
     Artur Rosendo iniciou muitos filhos de santo e vários deles abriram terreiro posteriormente. Dentre esses filhos,Maria das Dores da Silva (Maria de Oiá), que fez sua iniciação em 1927, e em fevereiro de 1938 começa a cultuar os orixás, na rua do Limão, em Campo Grande. No dia 7 de junho de 1930, inaugura seu terreiro.
     No dia 13 de dezembro de 1932, Maria de Oiá termina sua iniciação, com o recebimento das folhas, faca e espada.Ao meio dia, realizou-se o ritual de Coração de oiá no trono, repetida anualmente por Mãe Biú, sucessora de Maria de Oiá.
     Violenta repressão policial fecha o terreiro  em 1938, que continuou realizando seus cultos a portas fechadas. Com o falecimento de Maria de Oiá, Mãe Biú, filha de Ogun e Oiá, reabre seu terreiro na Estrada do Cumbe, Santa Clara-Recife. Em 7 de abril de 1951, muda-se para o atual endereço, na antiga Rua Albino Neves de Andrade, hoje Severina Paraíso da Silva, nº 65, no Portão de Gelo, São Bendito- Olinda.
     Após 54 anos dirigindo sua casa e mantendo as tradições e rituais da Nação Xambá. Mãe Biú, falece aos 78 anos, em 1993. A Mãe pequena da casa, Donatila Paraíso do Nascimento, iniciada por Artur Rosendo, continua preservando  as tradições do terreiro de Xambá.
     A mais de 70 anos, o terreiro do Portão de Gelo, em Olinda, mantên-se vivo e atuante, preservando seus ritos e tradições religiosas, que se destinguem das casas de tradição Nagô no Recife, apesar da maioria das casas Xambá de Pernanbuco ter se fundido as da Nação Nagô após a morte do babalorixá Artur Rosendo, a fundada por Maria de Oiá, o axé de Oyá Dopé, continua fiel.

                               ORIXÁS CULTUADOS NA NAÇÃO XAMBÁ
     EXÚ- recebe suas obrigações no mês de agosto e não faz yaô de exú na nação Xambá. O dia da semana é segunda feira, sua guia é preta e branca, sua cor é vermelha. Saudação:Exú Bê ou Bará ô Exú
     OGUM- nas cerimônias religiosas é Ogum quem sai na frente abrindo a roda para os outros orixás dançarem. Seu mês é abril quando se oferece rosas vermelhas e cerveja no mar para Ogum Beira Mar, o dia da semana é quarta-feira, sua guia é corrente de metal, sua cor é vermelha e sua saudação é Ogunhê.
     ODÉ-seu mês é abril, seu dia da semana é quarta-feira, sua guia é corrente de metal, suas cores é vermelho ou verde, sua saudação é Odê ô e Okê Arô.
     NANÃ-Nanã não sai debaixo do alá, só faz oborí,seu mês é julho,dia da semana é quarta-feira,sua guia é verde ou roxo, sua cor é roxa, saudação:Atotô Salubá.
     IBEIJI-seu mês é setembro, dia da semana quarta-feira, suas cores e guias, são verde, vermelho e branco.
     OBALUAÊ-na nação Xambá obaluaiê não sai debaixo do alá,seu mês é janeiro,dia da semana é quarta-feira,guia vermelha e preta, sua cor é verde. sua saudação é atotô.
     EWÁ-dia da semana é quarta-feira,sua guia é nas cores amarela,rosa e roxo,na nação Xangô o assentamento de Ewá é na panela de barro.
     OBÁ-dia da semana é quinta-feira, sua cor é rosa, sua guia é vermelha, sua saudação é Obá Ciô. na nação Xambá seu assentamento é numa tigela de louça.
     XANGÔ-dia da semana é domingo, cor vermelho e branco,saudação Kaô Kabecilê,na nação Xambá a primeira grande obrigação do ano é o amalá de Xangô.
     OIÁ/IANSÃ-seu dia é quinta-feira,sua cor é rosa, sua guia é vermelha,saudação Epahei oiá, Epahei Iansã, na nação Xambá o dia 13 de dezembro, ao meio dia acontece a Louvação a Oiá.
     AFREKÊ-Vodum de origem daomeana. apenas a nação Xambá cultua esse orixá que é tido como feminino, suas cores são variadas e sua guia é colorida, o mês dedicado a esse orixá é dezembro e o dia da semana é quinta-feira. O assentamento é feito em tigela de louça.
     OXUM-o mês dedicado a Oxum é fevereiro, sua cor é amarela, sua guia é amarela,seu dia da semana é terça-feira. Na nação Xambá, oferecem-lhe flores no rio no mês de fevereiro. sua saudação é Ora Ô.
     YEMANJÁ-seu mês é maio,o dia da semana é sábado,sua cor é azul claro com branco, sua guia de miçangas transparente, saudação Odo M. Na nação Xambá oferecen-lhe flores brancas no mar no mês de dezembro.
     ORIXALÁ-seu mês é julho, o dia da semana é sexta-feira, sua cor é branca e sua guia é branca, na nação Xambá, todas as sextas feiras do mês de julho o arroz de orixá (ossé), ocasião onde se canta muito para esse orixá. Durante todo o mês de outubro não há na casa obrigação de sangue, apenas inhame e bagre, encerrando com toque ao final do mês.


        A prefeitura de Olinda demarcou como decreto o Quilombo Urbano Portão do Gelo, como quilombo urbano do nordeste, da nação Xambá, sendo Portão do Gelo o terceiro quilombo do Brasil 
    

terça-feira, 6 de julho de 2010

OGÂS, ALAGBÊS E TAMBOREIROS

     É comum ouvirmos hoje vários termos para denominar aqueles que tocam ILÚS (atabaques). veja aqui o significado de expressões como OGÂS, ALAGBÊS ou TAMBOREIROS.
     OGÂ ou OGAN: no candomblé, dá-se o nome de ogâ a uma pessoa que submete-se a grandes obrigações internas de um axé(terreiro). Possuem poderes específicos dentro dos barracões, pois são autoridades especiais, sendo considerados pai por natureza, apesar de nunca se tornarem um babalorixá. O ogâ é suspenso pelo orixá(não passível de transe) e futuramente confirmado em iniciação particular, diferente em alguns aspectos, da iniciação dos demais filhos de santo, sendo excluído a catulagem, a raspagem e alguns outros rituais.
     A eles são atribuídos os atabaques, os sacrifícios animais, a guarda de elementos espirituais do culto, colheita de ervas, responsabilidade pela cozinha de orixás, auxílio imediato ao babalorixá ou ialorixá nos ebós e obrigações dadas nos filhos.
     OGÂ ALAGBÊ:tocador dos ilús(atabaques) chamados RUM,RUMPI,LÊ. ele se submete, também, aos rituais de consagração e tem a obrigação de conduzir os toques, em especial durante as sessões públicas. Deve conhecer todas as cantigas e é peça fundamental na organização sócio-religiosa do terreiro.
     Ele é responsável pelos toques rituais, alimentação, conservação e preservação dos instrumentos musicais sagrados.
     Nos ciclos de festas é obrigado a levantar de madrugada para que faça a Alvorada ( despertar do ilê para as atividades do dia ) durante mais ou menos quarenta minutos. Se uma autoridade de outro axé chegar ao ilê, o alabê tem de lhe prestar homenagem "dobrar o ilú"  e oferecer até a sua própria cadeira.
     O alagbê, é preparado para tocar apenas no seu terreiro, quando muito, num axé co-irmão, sendo que seus ilús não podem deixar o local onde foram preparados.
     Também possui sub-postos: OTUN ( primeiro substituto do posto). e OSI ( segundo substituto do posto).
     TAMBOREIRO: no Rio Grande do Sul, tradicionalmente usa-se a simples denominação de tamboreiro para todos os preparados para toques aos orixás. Além de executar o toque do tambor, o tamboreiro canta as rezas dos orixás, pode receber orixá e está liberado para tocar em outras casas, de nações religiosas diversas das que foi feito.
     Com o tempo, porém, a integração com religiosos do centro do país tornou comum o uso de termos usados pelo candomblé.
     Como no candomblé,tamboreiro, bem como seu instrumento, passa por um ritual religioso, diferindo apenas no fato de que seu tambor pode sair de dentro da casa onde foi feito para ser tocado em outras.
     Indiferente de serem chamados de alagbês ou tamboreiros, são eles os responsáveis pela condução do ritual e firmeza das cerimônias religiosas.
    
    

ESCRAVIDÃO

                        A PRESENÇA AFRICANA NO RIO GRANDE DO SUL
     A presença de escravos no Rio Grande do Sul data o início do século XVII, quando traficantes portugueses vendiam escravos às margens do rio do Prata, eram desembarcados  em vários pontos da costa: na barra do Rio Grande, e mais abaixo no Chuí, de onde negros marchavam  até o estuário do Prata. Rubens Vidal de Araújo, após consultar arquivos Jesuítas, afirmou que entre 1635 e 1941 centenas de soldados negros - membros das bandeiras paulistas - invadiram o Rio Grande do Sul para acabar com as missões jesuíticas e escravizar indígenas.
     Com a colonização do estado: o couro e a carne-de-sal se tornaram produtos de destaque no comércio internacional, escravos foram introduzidos na pecuária,na couraça e nas charqueadas, além de soldados em sangrentos combates - sempre motivados pela promessa de liberdade.
     Em 1776, durante a invasão espanhola de Pedro Cevallos, os famosos Lanceiros Negros ( um esquadrão a serviço do sargento  Rafael Pinto Bandeira ) ajudaram a libertar o Rio Grande. Escravos também lutaram nas Guerras do Prata e, na Revolução Farroupilha formaram quatro batalhões de infantaria e alguns esquadrões de cavalaria. Os Lanceiros Negros Farrapos escreveram páginas heróicas na principal epopéia da história do Rio Grande. A guerra do Paraguai também derramou sangue afro nos campos da margem esquerda do Rio Uruguai.
    Existem falhas nas fontes sobre a escravidão no sul, isso porque em 1890, Rui Barbosa ordenou a queima de papéis, livros e matrículas de escravos; contudo estima-se que o período onde o estado apresentou o maior número de escravos remete ao ano de 1814, quando somavam aproximadamente 29% da população gaúcha.
     A pregação contra a escravatura no Rio Grande do Sul teve início no começo do século XIX ; já em 1822, Antonio José Gonçalves Chaves, um dos maiores empresários da época, publicou um libelo contra a escravidão em sua obra Memórias Ecônomo-políticas. No texto Antonio afirma que o ponto frágil da concorrência entre as charqueadas gaúchas e os saladeiros platinos eram os trabalhadores, já nessa época os uruguaios e argentinos produziam com mão-de-obra assalariada.
     Encontramos outro registro da existência de um sentimento abolicionista em 1820, quando major Alexandre Luiz de Queiroz, conhecido como o Quebra, do regimento de Dragões do Rio Pardo, depois de tomar a guarnição militar, proclamou a República e libertou os escravos em Cachoeira.
     Desde 1869, a Sociedade Libertadora de Porto Alegre comprava cartas de alforria, e os próprios negros haviam fundado, em 1872, a Sociedade Floresta Aurora, ainda hoje atuante. Existiam entidades semelhantes em São Gabriel,Cruz Alta e D. Pedrito. Em Pelotas, onde estava a maior concentração de escravos foi criado o primeiro Clube Abolicionista e pouco depois o jornal "A Voz do Escravo" elaborado pelos próprios negros libertos.
     Em 1870, a fundação do PRR - Partido Republicano Rio-Grandense - ampliou a ideia de liberdade entre os gaúchos. O jornal do partido " A Federação" expunha a ideia progressista de crescimento social e abolição da escravatura. Júlio de Castilhos fez constar em seu programa de 1884: a defesa da libertação imediata de escravos, sem qualquer indenização. Castilhos escreveu no editorial do jornal republicano que a economia do Rio Grande nada sofreria no dia em que desaparecesse do seu solo o último escravo; nesse mesmo ano mais de trinta municípios gaúchos libertaram seus escravos. No início de 1884, Porto Alegre tinha quase seis mil escravos. Um ano depois não chegavam a dois mil, e às vésperas da Lei Áurea eram apenas 58 na zona rural.
     Com a implantação da lei abolicionista a situação dos negros, agora ex-escravos, não era diferente ao restante do país. Livre, mas sem emprego e sem ter onde morar, os negros sobreviveram como puderam na periferia das cidades, originando bairros pobres, como a Colônia Africana em Porto Alegre; muitos sem ter onde ir, continuaram com os mesmos senhores, trabalhando em troca de comida, vivendo em regime de semi-escravidão; existiam desde 1883 propostas para amenizar o problema: como a criação de asilos e colônias agrícolas, mas não foram concretizados. Relatos sobre esses novos tempos foram divulgados pelo jornal " O EXEMPLO", lançado em 1892, que, com algumas interrupções circulou até 1930. Elaborado pelos negros, denunciou em suas páginas as dificuldades, privações e preconceitos contra ex-escravos.