terça-feira, 6 de julho de 2010

ESCRAVIDÃO

                        A PRESENÇA AFRICANA NO RIO GRANDE DO SUL
     A presença de escravos no Rio Grande do Sul data o início do século XVII, quando traficantes portugueses vendiam escravos às margens do rio do Prata, eram desembarcados  em vários pontos da costa: na barra do Rio Grande, e mais abaixo no Chuí, de onde negros marchavam  até o estuário do Prata. Rubens Vidal de Araújo, após consultar arquivos Jesuítas, afirmou que entre 1635 e 1941 centenas de soldados negros - membros das bandeiras paulistas - invadiram o Rio Grande do Sul para acabar com as missões jesuíticas e escravizar indígenas.
     Com a colonização do estado: o couro e a carne-de-sal se tornaram produtos de destaque no comércio internacional, escravos foram introduzidos na pecuária,na couraça e nas charqueadas, além de soldados em sangrentos combates - sempre motivados pela promessa de liberdade.
     Em 1776, durante a invasão espanhola de Pedro Cevallos, os famosos Lanceiros Negros ( um esquadrão a serviço do sargento  Rafael Pinto Bandeira ) ajudaram a libertar o Rio Grande. Escravos também lutaram nas Guerras do Prata e, na Revolução Farroupilha formaram quatro batalhões de infantaria e alguns esquadrões de cavalaria. Os Lanceiros Negros Farrapos escreveram páginas heróicas na principal epopéia da história do Rio Grande. A guerra do Paraguai também derramou sangue afro nos campos da margem esquerda do Rio Uruguai.
    Existem falhas nas fontes sobre a escravidão no sul, isso porque em 1890, Rui Barbosa ordenou a queima de papéis, livros e matrículas de escravos; contudo estima-se que o período onde o estado apresentou o maior número de escravos remete ao ano de 1814, quando somavam aproximadamente 29% da população gaúcha.
     A pregação contra a escravatura no Rio Grande do Sul teve início no começo do século XIX ; já em 1822, Antonio José Gonçalves Chaves, um dos maiores empresários da época, publicou um libelo contra a escravidão em sua obra Memórias Ecônomo-políticas. No texto Antonio afirma que o ponto frágil da concorrência entre as charqueadas gaúchas e os saladeiros platinos eram os trabalhadores, já nessa época os uruguaios e argentinos produziam com mão-de-obra assalariada.
     Encontramos outro registro da existência de um sentimento abolicionista em 1820, quando major Alexandre Luiz de Queiroz, conhecido como o Quebra, do regimento de Dragões do Rio Pardo, depois de tomar a guarnição militar, proclamou a República e libertou os escravos em Cachoeira.
     Desde 1869, a Sociedade Libertadora de Porto Alegre comprava cartas de alforria, e os próprios negros haviam fundado, em 1872, a Sociedade Floresta Aurora, ainda hoje atuante. Existiam entidades semelhantes em São Gabriel,Cruz Alta e D. Pedrito. Em Pelotas, onde estava a maior concentração de escravos foi criado o primeiro Clube Abolicionista e pouco depois o jornal "A Voz do Escravo" elaborado pelos próprios negros libertos.
     Em 1870, a fundação do PRR - Partido Republicano Rio-Grandense - ampliou a ideia de liberdade entre os gaúchos. O jornal do partido " A Federação" expunha a ideia progressista de crescimento social e abolição da escravatura. Júlio de Castilhos fez constar em seu programa de 1884: a defesa da libertação imediata de escravos, sem qualquer indenização. Castilhos escreveu no editorial do jornal republicano que a economia do Rio Grande nada sofreria no dia em que desaparecesse do seu solo o último escravo; nesse mesmo ano mais de trinta municípios gaúchos libertaram seus escravos. No início de 1884, Porto Alegre tinha quase seis mil escravos. Um ano depois não chegavam a dois mil, e às vésperas da Lei Áurea eram apenas 58 na zona rural.
     Com a implantação da lei abolicionista a situação dos negros, agora ex-escravos, não era diferente ao restante do país. Livre, mas sem emprego e sem ter onde morar, os negros sobreviveram como puderam na periferia das cidades, originando bairros pobres, como a Colônia Africana em Porto Alegre; muitos sem ter onde ir, continuaram com os mesmos senhores, trabalhando em troca de comida, vivendo em regime de semi-escravidão; existiam desde 1883 propostas para amenizar o problema: como a criação de asilos e colônias agrícolas, mas não foram concretizados. Relatos sobre esses novos tempos foram divulgados pelo jornal " O EXEMPLO", lançado em 1892, que, com algumas interrupções circulou até 1930. Elaborado pelos negros, denunciou em suas páginas as dificuldades, privações e preconceitos contra ex-escravos.

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