sábado, 29 de agosto de 2020

PERFIL ETNO-HISTÓRICO DO POVO ANGOLANO

 


História: Perfil Etno-Histórico do Povo Angolano
Tata ria Nkisi Otuajô(*)
A base ético-linguística de Angola compreende os grupos populacionais BANTU e uma minoria não -BANTU, os VASSEQUELE.

OS BANTU
Habitando não só Angola mas também a África Central, Meridional e Oriental, o povo Bantu constitui um grupo especial entre os negros da África. Eles têm três elementos comuns sobre os quais nenhuma contestação é possivel:a) O mesmo sistema linguístico; b) Uma civilização base;c) Unidade nas ideias filosóficas.

Na vastidão das áreas que ocupam, a arrancada rumo ao progresso não se deu num dia nem obedeceu, depois, a uma velocidede uniforme. Assim, no progresso histórico do desenvolvimento da sociedade, uns avançaram mais que os outros.

O povo Bantu desenvolveu a metalurgia, a agricultura, a criação de gado,a pesca, o que lhe dava uma ascendência económica e militar.

A influência do meio geográfico, o modo de vida e a influência linguística de outros povos fazem com que existam em Angola nove grupos étnico-linguísticas. Também conforme o grau de desenvolvimento, o crescimento demográfico e o nível de organização, os grupos ético-linguísticos mais fortes tinham formado Reinos que marcaram a sua história. Assim temos:

BAKONGO: O grupo étnico-linguístico Bakongo, ocupa o Norte e o Noroeste de Angola, na área que abrange Cabinda até às linhas do rio Dande. A língua falada é o Kikongo.

Repartidos aquando da partilha do Continente Africano pelos países colonialistas, uma parte desse grupo passou para as actuais Repúblicas do Congo e Zaire.

A tradição ancestral diz-nos que foi um chefe chamado Nimi a Lukeni que reuniu no passado todos os clãs que falavam Kikongo, fundando o Reino do Congo, com capital em Mbanza Kongo, situada na província Angolana do Zaire.

Povo trabalhador e comerciante adoptou a moeda “njimbu” que consistia de conchas marinhas, muito antes da chegada dos Portugueses, o que assegurou o apogeu comercial do grande Reino do Kongo. Dada a situação geográfica, foi o primeiro Reino contactado pelos portugueses, em 1482.

Kimbundu: Vizinho imediato dos Bakongo, a sul, entre os rios Dande e Cuanza, o grupo étnico-linguístico Kimbundu espalha-se de Luanda até aos Lunda-Chokwes e confina a sul com os Ovimbundu. Antes da população Portuguesa, os Kimbundu tinham formado os Reinos do Dondo, Matamba e Estados da Kissama, onde florescia a agricultura e o comércio.

Primeiro grupo invadido militarmente pelos Portugueses, a partir dos meados do século XVI, a história nunca poderá esquecer-se dos seus grandes feitos heróicos na resistência contra a dominação estrangeira, sob o comando dos seus chefes, de que a Rainha Nzinga é expoente máximo do século XVII.

Compelidos de várias formas a conviver com os Portugueses durante séculos, os Kimbundu sofreram inflência Portuguesa, intensiva aqui e extensiva acolá, com a fundação das primeiras instituições escolares na área, o que afectou sobremaneira a sua base cultural Bantu. Em contrapartida, surgiram entre eles os primeiros passos da literatura em Angola.

OVIMBUNDU: Grupo étnico-linguístico mais numeroso, ocupa o Planalto Central de Angola nas Províncias de Benguela, Huambo, Bié, na maior parte do Cuanza Sul e no Norte da Huíla. A sua língua, umbandu não tem fronteiras no interior do País e marca presença forte no Zaire, na Zâmbia e na Namíbia.

Grandes comerciantes e agricultores dedicados da África Austral, os Ovimbundu repisaram o sub-continente do Atântico ao Índico e promoveram um intercâmbio forte de experiências e valores culturais, o que marcou fundo a sua psicologia, que faz da convivência com outros povos a sua característica principal. É históricamente conhecido como trabalhador, hospitaleiro e paciente, mas implacável quando lesado nos seus direitos. Durante a ocupação colonial, sofreu grande influência Cristã e atingiu o maior índice no País de alfabetização e de quadros intelectuais e técnicos de níveis básico, médio e superior.

Os Ovimbundu formaram vários Estados antes da ocupação colonial,de entre os quais se destacaram os seguintes: Mbalundu, Wambu, Viye, Ndulu, Ngalangui e Chiaka. Estes Estados constítuiram uma divisão administrativa da vasta área e não do seu povo unido e amalgamado na língua, cultura, tradição e carácter comum do poder – o Poder Democrático. Foram Estados fortes pela alma do seu povo, que sempre acreditou ser povo da terra dos destemidos, dos guerreiros. Ao lado das narrações, lendas e adágios, a canção testifica o passado: Kapalandanda wa lila; wa lilila ofeko yahe yilo ofeka yoku loya, ka loyele a tunde ko!… – Kapalandanda chorou, chorou pela sua terra…Esta é terra de combate, quem não luta, saía! O que ficaconsubstancia a mensagem secular do grito da liberdade “TERRA E LUTA ARMADA”.

LUNDA-CHOKWE: Ocupa as província da Lunda, parte do Moxico e está também dissiminado nas províncias do Cuando-Cubango, Huíla e leste do Bié e compreende os Lunda-Lua Chimbe, Lunda-Demba e Chokwe. A tradição conta que os Chokwe, negando ser tributários do Rei Lunda, expandiram-se numa vasta região do Moxico, Bié, Cuando-Cubando e Huíla. Antes da sua expanção, os Chokwe permaneceram estreitamente ligados ao Império Lunda, até que fundaram vários Estados.São comerciantes, caçadores e apicultores, o que faz da área dos Lunda-chokwe um centro comercial importante com os povos do planalto central até aos princípios deste século.

NGANGUELA: Povoando as províncias do Cuando-Cubango, moxico e parte do Cunene e Huíla, o grupo étnico-linguístico Nganguela compreende os Luimbi, Luchaze, Bunda, Luvale, Mbuela, Kangala, Massi e Yavuma. Os Nganguela destacam-se como pescadores (os Luvale são exímios pescadores que não se deizam influenciar pela época do ano) e notáveis apicultores.Vivendo longe da costa do Atlântico e num habitat disperso, os Nganguela só foram dominados pelos portugueses a partir dos anos de 1920, dominação esta que sofreu resistência dos Bunda, chefiados pelo seu dirigente Muene Bandu, assim como dos Nhemba, com o Rei Chilhauku.

Divididos em sub-grupos, não tiveram autoridade centralizada; contudo formaram importantes Reinos, dentre os quais se destacaram os Reinos do Kubango, de Massaka, ou da Raínha Lussinga, de Senge e dos Luvale, sob a prestigiosa dinastia Nhakatolo.

NHANEKA-HUMBI: Vizinhos dos Ovimbundu e dos Ovambo os Nhaneka-Humbi espalharam-se por Províncias da Huíla e do Cunene e compreendem entre outros, os Muíla, Humbi e Gambo. Dedicando-se à pastorícia e praticando uma fraca agricultura, de vida semi-n´mada, tiveram reinos fortes que resistiram ao colonialismo.

OVAMBO: Ocupando a Província de Cunene, entre o paralelo 16ª e a fronteira com a Namíbia, é constituído por Kuanhamas, Kuamatuis, Evales e Kafimas. Praticando uma agricultura de subsistência, tem a sua base económica na criação de gado que, por factores climáticos e baixo nível de desenvolvimento, não se libertou da vida semi-nómada. Sente-se ainda o calor de Mandume, que conseguiu unir o povo e fazer resistência forte aos Portugueses até Stembro de 1917. A sua capital foi Onjiva, cujo nome foi novamente retomado em substituição de Pereira d`Eça, nome que fora dado pelos Portugueses.

HERERO: O Herero é também um dos grupos populacionais do nosso País que se espalha na Província de Moçamedes, Sul de Benguela e Oeste de Huíla. Tal como seus vizinhos Nhaneca- Humbi e Ovambo, dedica-se à criação de gado. Cada um vê no gado graúdo o seu capital e nas crias o seu lucro final.

KUANGAR-BUKUSSO: O grupo linguístico Kuangar-Bukusso ocupa toda a faixa Sul da Província do Cuando-Cubango. Agricultores pacientes devido à acção cíclica da estiagem, têm a sua economia na criação de gado. Também praticam a pesca nos rios Cubango e Cuando.

OS VASSAQUELE: Os Vassequele constituem um grupo numericamente muito reduzido, que se encontra na Província do Cunene e no sul do Cuando-Cubango. Caçadores infatigáveis, têm sido nómadas ao longo dos tempos. Porém com a influência dos povos Bantu, quase todos adoptaram a vida sedentária, fazendo pequenas lavras, sem terem deixado a caça e a procura de fruta e mel.

Os Vassaquele possuem uma linguagem especial, caracterizada por “clics” ou estalidos. Foram os autores das maravilhosas pinturas que se encontram nos rochedos, em muitas grutas do Sul de Angola, como na gruta do Chitundo-Hulo no deserto de Moçâmedes.

Fonte: http://kimbolagoa.blogs.sapo.pt/30072.html

(*) Julio Guimarães é graduado em Administração de Empresa e pós-graduado em Gestão de Recursos Humanos. Foi iniciado no candomblé em 04-02-1984 e hoje pertence a Ndanji ua Tombeici. Atualmente dirige sua própria Inzo – ABASSA KUA BUALA NGANA ROXE MUKUMBE XIBULU UA NZAMBI – RJ

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