sábado, 17 de agosto de 2019

PAJELANÇA


Encantaria, Terecô, Mata ou Encantaria de Barba Soeira, é uma forma de pajelança afro-ameríndia, praticada sobretudo no Piauí, Maranhão e Pará. Em seus rituais, são cultuadas diversas divindades de origens diversas, tais como africanas (Voduns e certos Orixás), indígenas (O Raio, o Sol), católicas (o Deus único, o Espírito Santo e a Virgem Maria) e brasileiras (os Encantados e os Caboclos).

Diferente da Umbanda, na qual as entidades são espíritos de índios, escravos, etc, que desencarnaram e hoje trabalham individualmente (geralmente usando nomes fictícios), na Encantaria, as entidades não são necessariamente de origem afro-brasileira e não morreram, e sim, se "encantaram", ou seja, desapareceram misteriosamente, tornaram-se invisíveis ou se transformaram em um animal, planta, pedra, ou até mesmo em seres mitológicos e do folclore brasileiro como sereias, botos e curupiras. Na Encantaria, as entidades estão agrupados em famílias e possuem nome, sobrenome e geralmente sabem contar a sua história de quando viveram na terra antes de se encantarem.

Encantaria Piauiense 

O Piauí, devido a proximidade com o Maranhão, principalmente Teresina, que fica na divisa dos dois estados e muito próxima da cidade de Codó (Capital Mundial da Feitiçaria), recebe muita influência do Tambor de Mina e da Encantaria Maranhense, além da tradicional Umbanda. Em Teresina é possível encontrar mais de 500 terreiros de cultos afro-brasileiros.

A Encantaria Piauiense é fortemente ligada ao catolicismo popular. No Piauí, os crentes repetem várias vezes certa quadra rogatória de purificação. Depois o Pai-de-Santo dança em volta da guma no centro de um círculo formado por todos os dançantes que giram em torno de si mesmos da direita para a esquerda em volta do mestre. Cânticos são entoados para que algum moço (espírito) se aposse de seu aparelho (filho ou filha-de-santo) e cante sua doutrina, dançando em transe.

Lavagem das Escadarias da Igreja São Benedito

Todos os anos no mês de novembro, integrantes de vários terreiros de Umbanda, Candomblé e Tambor de Mina, fazem o ritual de lavagem das escadarias da Igreja São Benedito no centro de Teresina. A igreja foi escolhida por ter um belo adro com cruzeiro e escadarias, além de ser bem centralizada tendo bastante visibilidade, tendo sido construida por mão de obra escrava, e por fim, pelo fato de São Benedito ser o padroeiro dos negros.

A lavagem das escadarias da Igreja São Benedito em Teresina geralmente faz parte da programação em comemoração ao Dia da Consciência Negra.

Festa de Iemanjá em Teresina

Todos os anos em fevereiro, vários fiéis ocupam o antigo cais do Rio Parnaíba no centro de Teresina, levando velas azuis, flores brancas, água de cheiro e outros presentes para agradar Iemanjá, tida como a Mãe d'água (folclore) pelos cultos afro-brasileiros.

A deusa das águas também é homenageada às margens do Rio Poti, na zona nobre de Teresina.

Encantaria Maranhense 

O Estado do Maranhão é o berço de uma outra forma de umbandismo. A encantaria é presente em praticamente em todo o estado, tendo atravessado as fronteiras do Maranhão e chegando a estados vizinho como o Piauí e o Pará. Mas, a verdade é que muitas entidades da encantaria de mina do Maranhão já pode ser encontrada em tendas de todo o Brasil. Os maiores centros de encantaria são as cidades de São Luís, Codó, Caxias, e Cururupu, todas no Maranhão , e também Teresina no Piauí e Belém do Pará.

Os encantados do Maranhão estão agrupados em famílias, tem nomes próprios e contam suas histórias de quando viveram na Terra. Eles dizem que estar encantado é como viver em um mundo congelado, pois eles vêem as coisas acontecerem ao redor, mas ninguém pode vê-los, eles estão invisíveis. Os lugares onde eles se encontram encantados fazem referências a diversas coisas e lugares do estado como as matas de Codó, o boqueirão, ilhas e a famosa Praia dos Lençóis, onde se encontra o Reinado do Rei Dom Sebastião.

Rei Sebastião e o Touro Encantado dos Lençóis 

O touro encantado da Praia dos Lençóis Maranhenses é um grande touro negro, com uma estrela brilhante na testa, que aparece misteriosamente em noites de sexta-feira. Dizem que Dom Sebastião aparece na praia na forma do touro negro. Se alguém conseguir atingir a estrela e ferir o touro, o reino será desencantado, a cidade de São Luís irá submergir e aparecerá uma cidade encantada com os tesouros do rei."

Alguns dizem que Dom Sebastião costuma aparecer principalmente em junho, durante as festas do bumba-meu-boi, e em agosto, época do aniversário da batalha de Alcácer-Quibir. Dizem também que atualmente o Rei Sebastião já não está mais aparecendo porque “a Praia dos Lençóis está sendo muito visitada e já possui muitos moradores”.

"Afirma-se que as dunas de areia da Praia dos Lençóis têm semelhanças com o campo de Alcácer-Quibir, onde el rei dom Sebastião desapareceu. Lençóis é considerada uma praia encantada, que serve de morada a Dom Sebastião. Seu reino está oculto no fundo do mar, próximo aquela praia. O rei vive em seu palácio submerso e seu navio nunca encontra a rota para Portugal.

Conta-se ainda que tudo o que existe em Lençóis pertence ao Rei Sebastião e que ninguém pode se apropriar do que é seu. Quem tentar levar alguma coisa que pertence à praia terá que devolver o quanto antes, sob pena de arriscar a própria vida e a de todos os seus companheiros. O barco pode afundar e levar todos para a morada de Dom Sebastião, identificada como o Reino ou Palácio de Queluz (embora este só tenha sido construído no século XVIII, na cidade de Sintra, muito depois de sua época).

Num dos cânticos do Tambor de Mina, o Rei Touro é lembrado: "Rei Sebastião, guerreiro militar. Rei Sebastião, guerreiro militar. E quem desencantar lençol, põe abaixo o Maranhão".

Nesse culto, diz-se que, na praia dos Lençóis, mora toda uma família de encantados, formada apenas por reis e fidalgos, como a Família da Turquia, chefiada por um rei mouro, Dom João de Barabaia, que lutou contra os cristãos. É a esta família que pertence a Bela Turca, a Cabocla Mariana, que vem ao mundo não apenas na forma de turca, mas também como marinheira, cigana ou índia.

A vinda do Rei Dom Sebastião ao corpo de um sacerdote é muito rara, alguns falam que ocorre de sete em sete anos.

Literatura

J. Reginaldo Prandi, André Ricardo de Souza: Encantaria Brasileira: O Livro dos Mestres, Caboclos E Encantados (Google Books), Pallas Editora, 2001
Referências

Crenças e rituais
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